sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada" (2/57)





A DOUTRINA DE DEUS — OS NOMES DE DEUS

“Deus é Espírito, infinito, eterno e imutável, em Seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade, e verdade” (Breve Catecismo de Westminster, Questão 4). Consequentemente, Ele é incompreensível; o homem é incapaz de pensar sobre tudo o que Deus é. Desta forma, qualquer auto-revelação da parte de Deus, é um ato gracioso e condescendente de Deus para com a compreensão limitada do homem.

Os nomes (ou títulos) de Deus são alguns dos caminhos-chave por meio dos quais Deus revela a Si mesmo. Estes nomes são mais do que apenas rótulos ou etiquetas de identificação; eles são descrições proposicionais de alguns aspectos das Suas infinitas Pessoas. Consequentemente, eles não podem ser usados ao acaso (à esmo), e não devem ser desconsiderados durante a leitura das Escrituras.

Existem, de uma maneira geral, três categorias para os nomes de Deus: (1) proposicional, expressando algum fato pertinente à sua divindade, tais como “Deus Altíssimo” (Gênesis 14:18-22) e “Deus eterno” (Gênesis 21:33); (2) histórico, comemorando algum encontro com Deus (como Jeová Jireh, “o Senhor proverá” - Gênesis 22:14; ver também Gênesis 16:13; Êxodo 17:15); (3) pessoal, declarando alguma experiência individual (“o Deus de Abraão”, “o Deus de Isaque”, etc.).

Aqui está uma breve explicação de alguns nomes proposicionais comuns no Antigo Testamento:

Jeová. Este é o nome pessoal de Deus, especialmente ligado ao Seu pacto de graça e misericórdia. Derivado do verbo “Eu sou” (explicado no episódio da sarça ardente, encontrado em Êxodo 3), este nome declara a autossuficiente independência, eternidade e soberania de Deus. Ainda, de maneira extraordinária, Jeová é o principal nome de Deus usado em contextos de salvação. Embora Deus seja infinitamente independente de qualquer coisa fora de Si mesmo, Ele está disposto a ter comunhão íntima com o homem, particularmente através do pacto da graça. Jeová, portanto, é frequentemente considerado como o “nome pactual” de Deus. Na versão King James (KJV), este nome é sempre traduzido em letras maiúsculas como “SENHOR”, ou ocasionalmente como “DEUS”. [As versões em português, traduzidas por João Ferreira de Almeida - JFA, particularmente a versão Almeida Revista e Atualizada - ARA, também seguem este mesmo padrão, segundo as explicações encontras no prefácio escrito pela Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, onde está escrito: “A palavra 'Senhor' sempre é escrita 'SENHOR', com letras maiúsculas, quando no texto original hebraico aparece o nome de Deus 'Javé' (Gênesis 2:4)”].

Deus. Este é o termo mais geral para a deidade. A palavra em hebraico pode estar tanto no singular (El), quanto no plural (Elohim). Ambas enfatizam a grandiosidade de Deus. Ele é “Todo-Poderoso”; Ele possui toda a autoridade; Ele é capaz realizar o que Lhe apraz. Este título também magnifica a transcendência de Deus; Ele é exaltado acima de toda a criação, incluindo o homem. A forma no plural significa a sua majestade ou excelência, que realça o Seu poder e grandiosidade, com ainda maior ênfase. De forma significativa, esta é a Sua primeira auto-revelação: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1, ver também Salmos 19:1). Ele é o Criador.

Senhor. O título Adonai descreve Deus como o Proprietário e Mestre supremo de tudo. Tudo pertence a Ele, e Ele governa tudo de acordo com os Seus próprios propósitos, para a Sua própria glória. Este nome declara a Sua absoluta soberania ou realeza. Reis terrenos vêm e vão, mas o Rei celestial reina, supremo, para sempre (Isaías 6:1). Todos os homens e todas as nações, quer tenham conhecimento Dele ou não, estão sujeitos à Sua autoridade e devem responder (se reportar) a Ele. Ele é o Soberano sobre toda a terra; todos irão se curvar diante Dele (2Reis 7:6; Salmos 110:5; Daniel 1:2; Amós 1:8). Na versão KJV, este título é traduzido como Senhor, para distinguir de Jeová, que é  escrito como SENHOR.

Deus Todo-Poderoso. Apesar deste título ocorrer mais frequentemente no período patriarcal, especialmente no livro de Jó, ele não é limitado somente a este período. Em hebraico, significa El Shaddai. As opiniões diferem no que diz respeito à tradução, contudo é mais provável que o significado seja “o Deus que é suficiente”. Ele é completamente capaz de manter (ou cumprir) cada uma das palavras das Suas promessas, mesmo quando o cumprimento parece impossível. Nada é muito difícil para El Shaddai. Assim, mesmo que a perspectiva de uma grande nação descendente de Abraão pareça impossível, por trás da promessa está El Shaddai, e, portanto, ela é certa (Gênesis 17:1; 35:11-12).

Senhor dos Exércitos. Significa “Jeová dos exércitos”, uma expressão militar que identifica Deus como o “Comandante” que tem toda a autoridade e patente infinita para ordenar as Suas tropas a completar a Sua vontade. Este título ocorre mais frequentemente durante o período da monarquia (Samuel, Reis, Crônicas, Salmos, e os Profetas). Dependendo do contexto, o exército pode estar se referindo à Israel, aos anjos, aos corpos celestiais (estrelas e planetas), ou até mesmo à toda a criação. O ponto importante é que Deus tem o poder, a autoridade e os recursos ao Seu comando, para fazer e alcançar todos os Seus planos e propósitos. Não importa quão grande seja a promessa, ou quão séria seja a ameaça, o “Senhor dos Exércitos” estará no comando e irá concretizar. Note, por exemplo, que Zacarias usa esta expressão cerca de cinquenta vezes na sua profecia, para reforçar a certeza de cada uma das palavras do Senhor (ver também Isaías 6:1-4).
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Segundo artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização.
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org

Série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada" (1/57)


A DOUTRINA DE DEUS — O DEUS ÚNICO E VERDADEIRO



Dentro das fronteiras do universo em que a humanidade habita, existem dois tipos de seres. Existem aqueles seres que são dependentes uns dos outros. Esta categoria abarca tudo, de elefantes a lesmas, de anjos a demônios, de seres humanos a vírus. Contudo, existe um ser do qual todos os outros dependem. Somente ele é auto-existente – o grande Yahweh (“Jehovah” ou Jeová), que disse a Moisés que o Seu nome é “EU SOU O QUE SOU” (Êxodo 3:14; ver também Apocalipse 1:4). Todos os outros seres extraem o seu sustento e existência a partir Dele. Ele é absolutamente único, de tal forma que Ele não depende (não precisa) de nada fora de Si mesmo. Apenas Ele possui o que os estudantes de teologia chamam de asseidade, o atributo da auto-existência (João 1:4; 5:26). Como Ele concede a vida para toda a criação, desde o maior objeto até a menor das partículas, Ele deve ser confessado como o único Criador e Deus (1Coríntios 8:6).​​

A confissão da Bíblia sobre a singularidade de Deus também pode ser encontrada na declaração de que Ele é santo (Isaías 6:3; Apocalipse 4:8). A santidade de Deus significa primeiramente que Ele é completamente diferente da Sua criação. Ele é o Criador, único e em controle completo de tudo o que Ele fez. Nós, seres humanos, somos limitados no que podemos fazer. Nosso conhecimento é finito, e nunca exaustivo. Nossas vidas nesta terra são relativamente curtas em duração e, frequentemente, perseguidas por experiências dolorosas — “desagradável, brutal e curta”, como o filósofo Thomas Hobbes uma vez descreveu. Deus não é assim. Ele é imortal, pode fazer tudo o que a Sua boa vontade decide, e não tem absolutamente nenhuma limitação. Dizer que Deus é santo significa falar da Sua singularidade, da Sua diversidade (ou alteridade) diante da Sua criação.

Homens e mulheres adoram a vários deuses. Tendo sido feitos à imagem do Deus verdadeiro, os seres humanos têm um insaciável desejo de adoração (ou prestar culto). Contudo, sendo seres caídos (pelo pecado), os seres humanos inevitavelmente adoram deuses fabricados por eles mesmos. João Calvino, o Reformador Francês, apontou precisamente que a mente humana é “uma perpétua fábrica de ídolos”. (Institutas da Religião Cristã, 1.11.8; cf. Romanos 1:18-25). O único remédio é a dádiva da visão espiritual, por parte de Deus, onde é concedido como que um raio de luz do céu, e as pessoas são despertadas para conhecerem ao Deus verdadeiro, e para conhecerem a si mesmas como Suas criaturas.

Deus é, portanto, soberano sobre a Sua criação. Ele concede vida e tira a vida, levanta nações e montanhas, e também as rebaixa, traz sóis para a luz, e os estingue. Nada pode detê-Lo. O que Ele decide, certamente acontece, e neste exercício de soberania está a Sua glória.

Os seres humanos têm o privilégio e a responsabilidade de reconhecer esta soberania de Deus. Contudo, eles só podem fazer isto quando Deus inclina os seus corações. Por natureza, eles são rebeldes, desprezando a Sua autoridade, e agindo contra o que eles instintivamente sabem, e também declarando que Deus não existe.

Contudo, Ele existe sim! O cristão tem mais certeza disto do que qualquer outra coisa que ele ou ela saiba. Assim, o “doce deleite” (emprestando uma frase de Jonathan Edwards, o pregador evangélico do século XVIII) do cristão é submeter-se a este grande Deus, reconhecendo a sua total dependência Dele, e vivendo para Ele e para a Sua glória. Portanto, o discurso cristão sobre Deus é muito mais do que uma discussão filosófica sobre a Sua existência. É o próprio deleite, para o cristão, vir a conhecer o único e verdadeiro Deus, e conhecendo-O, encontrar significado para a vida e, certamente, a vida eterna (1João 5:20) – na qual o cristão vai desfrutar eternamente o conhecimento, o amor e a comunhão com o Deus triuno, tendo gozo no Seu sorriso e banqueteando na Sua presença.
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Primeiro artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização.
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Carnaval: A festa que termina em Cinzas

O carnaval brasileiro é a maior festa popular do mundo. Atrai turistas de todos os continentes e chama a atenção da imprensa internacional. Escolas de samba, com seus enredos e carros alegóricos passam garbosamente pelas passarelas, vendendo alegria e trombeteando uma felicidade contagiante. São quatro dias de intenso fervor carnal. Multidões se acotovelam atrás de um carro alegórico, dançando e pulando freneticamente, movidas pelo álcool ou embaladas nas asas da sedução. Uns engrossam essas fileiras quase nus; outros escondem-se atrás de máscaras. As máscaras revelam os enrustidos e desvelam os anelos dos corações mais afoitos no pecado.
O carnaval é uma festa cara, onde não faltam as disputas acirradas entre as escolas e os arranjos subterrâneos para atender interesses inconfessos. Nessa festa, os excessos são a regra e a sobriedade, a exceção. Há muita bebedeira e muito consumo de drogas ilícitas. Há muita promiscuidade e muitos casamentos desfeitos. Há muitos que saem dessa alucinação com a consciência carregada de culpa e o corpo marcado por doenças que lhe encurtarão os dias.
O carnaval termina na quarta de cinzas. As cinzas são um sinal de arrependimento. Mas, nesse caso, as cinzas não sinalizam qualquer penitência ou quebrantamento. É apenas um ritual vazio, sem qualquer conteúdo moral e espiritual. Aliás, as cinzas são apropriadas para o desfecho do carnaval, pois essa festa mundana termina, quase sempre, timbrada pela dor e marcada pela culpa. As alegrias do carnaval são postiças e não verdadeiras. A alegria patrocinada pelo carnaval dura apenas enquanto as pessoas estão dopadas pelo prazer carnal. Quando as luzes dessa festa se apagam, deixa seu celebrante na mais densa escuridão. Quando as músicas cessam, fica apenas o gemido da angústia. Quando os enfeixes viram lixo, de lixo se cobre a alma, porque a alegria do mundo é um arremedo de alegria.
Assim é o pecado! O pecado é um embuste, uma farsa, um ledo engano. Parece belo aos olhos e desejável ao coração. Porém, sua aparência é falsa e seu sabor amargo. O pecado é maligníssimo. É pior do que o sofrimento e mais horrendo do que a própria morte. Os males todos desta vida não poderiam nos afastar de Deus, mas o pecado faz separação entre o homem e Deus. O pecado é pior do que o inferno, porque o inferno só existe por causa dele. O pecado é filho da cobiça e genetriz da morte. O pecado é enganador. Promete mundos e fundos, mas não tem nada para oferecer, a não ser a culpa, a dor, a vergonha e a morte. O pecado promete alegria e promove tristeza. O pecado promete liberdade e escraviza. O pecado promete vida e mata.
A verdadeira alegria não está no carnaval. A verdadeira alegria só Deus pode dar. A alegria de Deus é mais do que uma emoção. É mais do que um sentimento. A alegria de Deus é uma pessoa. É Jesus! Todo aquele que conhece a Jesus e tem nele o seu Salvador e Senhor, recebe essa alegria indizível e cheia de alegria. Essa alegria não dura apenas nos luzidios dias de festa. Está presente em todos os lugares, em todos os tempos, em todas as circunstâncias. Mesmo aqueles que sofrem os mais violentos ataques de fúria deste mundo, desfrutam dessa alegria. Mesmo aqueles que estão encerrados atrás de barras de ferro e presos por grossas correntes, cantam nas prisões. Mesmo aqueles que enfrentam os dramas da fome e dos mais perversos castigos físicos, encontram em Jesus, motivo para cantar. Mesmo aqueles que entram pelo corredor da morte e sofrem doloroso martírio, caminham para o patíbulo com um hino de louvor em seus lábios. Oh! Essa alegria o mundo não conhece nem poder dar. Essa alegria o mundo não pode tirar. Essa alegria não brota da terra, emana do céu. Essa alegria não vem dos homens, procede de Deus. Essa alegria não é uma oferta dos prazeres desta vida, mas um dom do Espírito Santo. Essa alegria não é celebrada nas passarelas do carnaval, mas no coração de todos os remidos do Senhor!


Autor: Hernandes Dias Lopes

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Como ler Gênesis (Gordon D. Fee e Douglas Stuart)

Informações básicas sobre Gênesis

Conteúdo: a história da Criação, da desobediência humana e suas trágicas consequências, e da escolha, por parte de Deus, de Abraão e sua descendência — o início da história da redenção
Abrangência histórica: da Criação do mundo até a morte de José, no Egito (c. 1600 a.C.?)
Ênfases: Deus como o Criador de tudo o que existe; a criação dos seres humanos à imagem de Deus; a natureza e as consequências da desobediência humana; o início das alianças divinas; a escolha, por parte de Deus, de um povo por meio do qual ele abençoará as nações

Visão Geral de Gênesis

Para os leitores modernos, Gênesis pode parecer um livro estranho, já que começa com Deus e a Criação e conclui com José num caixão no Egito! Mas essa estranheza é prova de que, embora apresente integridade como livro (estrutura e organização evidentes), Gênesis tem o propósito, ao mesmo tempo, de dar início a toda a história bíblica. A primeira palavra do livro (Bereshit = “em [o] princípio”), além de lhe servir de título, sugere o seu conteúdo. Assim, ele fala do princípio da história de Deus — Criação, desobediência humana e redenção divina — enquanto, ao mesmo tempo, dá início ao Pentateuco, a história da escolha de um povo, por parte de Deus, e do estabelecimento de uma aliança com esse povo, por meio do qual ele abençoaria todos os povos (Gn 12.2,3).
A narrativa de Gênesis apresenta duas partes básicas: uma “pré-história” (caps. 1—11), que consiste nas histórias da Criação, da origem dos seres humanos, da Queda da humanidade e do progresso implacável do mal — tudo isso tendo como fundo a paciência e o amor incansáveis de Deus —, e a história do início da redenção por meio de Abraão e sua descendência (caps. 12—50), o foco estando nas histórias de Abraão (11.27—25.11), de Jacó (25.12—37.1) e de José (caps. 37—50). Essas histórias, em parte, são estruturadas em torno de uma frase que ocorre dez vezes: “Estas são as gerações [genealogias/histórias/relatos de família] de”, um termo que pode se referir tanto às “genealogias” em si (como nos casos de Sem, Ismael e Esaú) quanto às “histórias de famílias”. Você perceberá que as histórias principais de Abraão, Jacó e José estão todas na história de família de seus respecti-vos pais (Terá, Isaque e Jacó)
A narrativa geral de Gênesis, portanto, começa imediatamente após o prólogo (1.1—2.3), com a primeira família humana no jardim do Éden, passando, a partir da família de Adão, por Noé e Sem e chegando,assim, a Terá e Abraão, e passando, finalmente, por Isaque e chegando, assim, a Jacó (Israel), e portanto até José. Ao mesmo tempo, também são fornecidas as linhagens familiares dos filhos rejeitados (Caim, Ismael, Esaú), destacando, assim, o contraste entre a “descendência eleita” e o “irmão rejeitado” (aquela tem uma história, este, só uma genealogia). Finalmente, perceba mais um recurso estrutural que dá forma à maior parte do livro: Deus usa Noé para preservar a vida humana durante o grande dilúvio (caps. 6—9), e usa José para preservar a vida humana durante a grande seca (caps. 37—50).

Orientações para a leitura de Gênesis

À medida que você lê esse primeiro livro da Bíblia, além de saber que a narrativa se desenvolve segundo as histórias de famílias, também atente para a forma como a trama principal, por um lado, e várias subtramas, por outro, cooperam para moldar a história de família mais ampla, que é a história do povo de Deus.
trama principal diz respeito à intervenção de Deus na história da condição caída da humanidade ao escolher (“eleger”) um homem e sua família. Porque embora as famílias de Abraão, de Isaque e de Jacó sejam, por assim dizer, os personagens principais, você não deve jamais esquecer que Deus é o Protagonista último — o que se aplica a todas as narrativas bíblicas. Esta é, acima de tudo, a história dele. Deus fala, e dessa forma cria o mundo e um povo. A história se torna do povo (e nossa) apenas na medida em que Deus traz essa família à existência, faz promessas a ela e realiza com ela uma aliança para ser o seu Deus. Permaneça atento, portanto, à forma como a trama principal se desenvolve, e a como os personagens primários se tornam parte da história de Deus.
Ao mesmo tempo, não deixe de observar as várias tramas menores, que são cruciais para a história maior do povo de Deus no Antigo Testamento — e em alguns casos, também, para a história do povo constituído pela nova aliança. Seis dessas subtramas merecem atenção especial.
A primeira — crucial para toda a história bíblica — é a ocorrência das primeiras duas alianças entre Deus e o seu povo. A primeira aliança é com toda a humanidade, por meio de Noé e seus filhos, prometendo que Deus nunca mais eliminará a vida da terra (9.8-17). A segunda aliança é com Abraão, e promete duas coisas em especial — a dádiva da “semente/descendência” que se tornará uma grande nação para abençoar as nações, e a dádiva da terra (12.2-7; 15.1-21; cf. 17.3-8, em que a aliança é ratificada pela marca identificadora da circuncisão). A segunda aliança é repetida a Isaque (26.3-5) e a Jacó (28.13-15) e serve, por sua vez, como base para as duas alianças seguintes no Antigo Testamento: a dádiva da Lei (Êx 20—24) e a dádiva da monarquia (2Sm 7).
comoler_abiblia_gA segunda subtrama é um pouco sutil no próprio Gênesis, mas é importante para o desenrolar posterior do tema da guerra santa(v. glossário) na história bíblica. Ela começa com a maldição de Deus sobre a serpente, de que Deus porá “inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência [semente] e a descendência dela” (3.14,15). O termo crucial aqui é “descendência” (semente), retomado em 12.7 em relação ao povo escolhido. Essa maldição prenuncia o tema da guerra santa, que é particularmente acentuado em Êxodo (a guerra sendo entre Moisés e o faraó, portanto entre Deus e os deuses do Egito; v. Êx 15.1-18), é desenvolvido na conquista e derrota de Canaã e de seus deuses (o que explica a maldição de Canaã em Gn 9.25-27) e culmina no Novo Testamento (na história de Jesus Cristo, e esp. em Apocalipse). Embora  em Gênesis esse tema não assuma a forma da guerra santa propriamente, pode se vê-la, não obstante, especialmente no conflito entre irmãos, ou seja, entre a descendência divina e a não divina (Caim/Abel; Ismael/Isaque; Esaú/Jacó), em que o mais velho persegue o mais novo, por meio de quem Deus escolheu operar (v. Gl 4.29).
A escolha, por parte de Deus, do mais jovem (ou do mais fraco, ou  do mais improvável) para levar adiante a descendência justa é uma terceira subtrama que começa em Gênesis. Aqui, ela assume duas formas em particular que são, então, repetidas ao longo da história bíblica.  Em primeiro lugar, Deus regularmente ignora o filho primogênito na  execução dos seus propósitos (uma ruptura considerável, da parte de  Deus, com as normas culturais então correntes): não Caim, mas Sete; não Ismael, mas Isaque; não Esaú, mas Jacó; não Rúben, mas Judá. Em segundo lugar, a descendência divina frequentemente é gerada por uma mulher antes estéril (Sara, 18.11,12; Rebeca, 25.21; Raquel, 29.31). À medida que você lê a história bíblica inteira, é uma boa ideia prestar atenção nesse tema recorrente (v., p. ex., 1Sm 1.1—2.11; Lc 1).
Ligado a esse tema está o fato de que os escolhidos não devem a escolha de Deus à própria bondade; aliás, os defeitos desses escolhidos são fielmente narrados (Abraão em Gn 12.10-20; Isaque em 26.1-11; Jacó ao longo da sua narrativa [repare no quanto a família no capítulo 37 é disfuncional!]; Judá em 38.1-30). Deus não os escolhe em vista do caráter inerente deles; o que faz deles a descendência santa, antes, é que eles confiaram, no final, em Deus e na sua promessa de que seriam o seu povo — um povo extraordinariamente numeroso — e de que herdariam a terra à qual primeiro vieram como estrangeiros.
Uma quarta subtrama vem à tona mais tarde na história, em que Judá assume o papel de líder entre os irmãos na longa narrativa de José (caps. 37—50). Ele aparece pela primeira vez no capítulo 38, em que suas fraquezas e sua pecaminosidade são expostas. Mas seu papel principal tem início em 43.8,9, em que ele garante a segurança de seu irmão Benjamim, e atinge o clímax com sua disposição em tomar o lugar de Benjamim, em 44.18-34. Tudo isso prenuncia a bênção de Jacó em 49.8-12, segundo a qual o “cetro não se afastará de Judá” (apontando para o reino davídico e, indo além deste, para Jesus Cristo).
Uma quinta subtrama é encontrada na prenunciação do “capítulo” seguinte na história — a escravidão no Egito. O interesse no Egito começa com a genealogia de Cam (10.13,14; Mizraim é o termo hebraico para “Egito”). A narrativa familiar básica (de Abraão até José) começa com uma fome que leva Abraão até o Egito (12.10-20) e conclui com outra fome que leva Jacó e toda a sua família a se estabelecer no Egito, enquanto Isaque, na sua viagem para o Egito durante ainda outra fome, recebe a ordem expressa de não ir até lá (26.1-5).
Finalmente, o interesse em detalhar as origens dos vizinhos próximos de Israel, que se lhe tornam espinhos na carne ao longo da  história do Antigo Testamento, forma uma sexta subtrama. Além dos  personagens principais, Egito e Canaã (10.13-19), observe também, respectivamente, Moabe e Amom (19.30-38), Edom (25.23; 27.39,40;  36.1-43), e o papel menor de Ismael (39.1; cf. Sl 83.6)

Trecho do 1º capítulo do livro “Como Ler a Bíblia Livro por Livro” de Gordon D. Fee e Douglas Stuart (Edições Vida Nova)


Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 8/8)-ENTREGUE-SE A PROPÓSITOS NOBRES

Eu vejo jovens cristãos na universidade desperdiçando o seu tempo jogando vídeo-game, indo a shoppings e cinemas. Eles deveriam estar buscando objetivos mais nobres! Você foi não comprado pelo sangue do Cordeiro para dar-se a tais coisas. Você foi adotado em uma família real e feitos nobres são esperados de você. Evite o entretenimento despreocupado da idade e se entregue à vontade de Deus. As Escrituras declaram em II Timóteo 2:20-21:
“Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra.”
Você deseja ser um vaso para honra e usado para propósitos nobres? Você deseja ser um instrumento nas mãos do Mestre? Então se livre dos jogos tolos de menininhos e menininhas fúteis, e torne-se o homem ou mulher que você foi chamado para ser. Acredito que foi A.W. Tozer quem disse que na lápide da América seriam escritas as palavras, “Eles se divertiram até a morte”. Isto é um epitáfio patético, quando comparado ao que foi dito sobre o Rei Davi:
“ [Ele] serviu ao propósito de Deus na sua própria geração, caiu adormecido, e foi posto junto de seu pais … ”
Que legado você deixará? O que será esculpido na sua lápide? Mais importante, o que irá Deus declarar sobre a sua vida durante o grande Dia do Juízo que o espera? Que Deus possa ter misericórdia de você e conceder-lhe graça para superar de longe o caráter e feitos daquele que lhe está escrevendo esta carta.
Seu irmão,
– Paul Washer
Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio
Revisão: Vinícius M. Pimentel

Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 7/8)-FUJA DAS PAIXÕES DA MOCIDADE

Em Efésios 6:10-12, você é ordenado a resistir ao diabo. Em Tiago 4:7 há a garantia que se você resistir a ele, ele fugirá de você. Ainda assim, em II Timóteo 2:22 você é ordenado a fugir das paixões da mocidade. É um tanto assombroso ver que você é ordenado a ser forte, resistir e lutar contra anjos caídos, e ao mesmo tempo, você é ordenado a fugir com medo das paixões da mocidade. Isto demonstra que a paixão da sua carne e a sensualidade desenfreada da sua cultura é mais perigosa do que uma batalha face a face com o diabo.
Eu conheço inúmeros jovens cristãos que demonstraram evidências genuínas de conversão, e ainda assim ao entrar em uma relação com o sexo oposto, eles caíram em imoralidade. Eu sei que eles memorizam as Sagradas Escrituras, oram, e até jejuam para serem puros na sua relação, e mesmo assim eles caíram. Por quê? Porque eles não entenderam que todas as disciplinas espirituais das Sagradas Escrituras não poderiam salvá-los das paixões da juventude. Eles tentavam lutar uma batalha enquanto Deus ordenou eles a fugir. Resumindo: Você não pode ficar sozinho em um relacionamento com uma pessoa do sexo oposto durante um período extenso de tempo sem cair. Por isso, vocês nunca devem ficar sozinhos em uma casa, carro, ou qualquer outro lugar onde a luxúria e os desejos podem ser acesos e o fracasso é certo.

Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio
Revisão: Vinícius M. Pimentel