segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Como ler Gênesis (Gordon D. Fee e Douglas Stuart)

Informações básicas sobre Gênesis

Conteúdo: a história da Criação, da desobediência humana e suas trágicas consequências, e da escolha, por parte de Deus, de Abraão e sua descendência — o início da história da redenção
Abrangência histórica: da Criação do mundo até a morte de José, no Egito (c. 1600 a.C.?)
Ênfases: Deus como o Criador de tudo o que existe; a criação dos seres humanos à imagem de Deus; a natureza e as consequências da desobediência humana; o início das alianças divinas; a escolha, por parte de Deus, de um povo por meio do qual ele abençoará as nações

Visão Geral de Gênesis

Para os leitores modernos, Gênesis pode parecer um livro estranho, já que começa com Deus e a Criação e conclui com José num caixão no Egito! Mas essa estranheza é prova de que, embora apresente integridade como livro (estrutura e organização evidentes), Gênesis tem o propósito, ao mesmo tempo, de dar início a toda a história bíblica. A primeira palavra do livro (Bereshit = “em [o] princípio”), além de lhe servir de título, sugere o seu conteúdo. Assim, ele fala do princípio da história de Deus — Criação, desobediência humana e redenção divina — enquanto, ao mesmo tempo, dá início ao Pentateuco, a história da escolha de um povo, por parte de Deus, e do estabelecimento de uma aliança com esse povo, por meio do qual ele abençoaria todos os povos (Gn 12.2,3).
A narrativa de Gênesis apresenta duas partes básicas: uma “pré-história” (caps. 1—11), que consiste nas histórias da Criação, da origem dos seres humanos, da Queda da humanidade e do progresso implacável do mal — tudo isso tendo como fundo a paciência e o amor incansáveis de Deus —, e a história do início da redenção por meio de Abraão e sua descendência (caps. 12—50), o foco estando nas histórias de Abraão (11.27—25.11), de Jacó (25.12—37.1) e de José (caps. 37—50). Essas histórias, em parte, são estruturadas em torno de uma frase que ocorre dez vezes: “Estas são as gerações [genealogias/histórias/relatos de família] de”, um termo que pode se referir tanto às “genealogias” em si (como nos casos de Sem, Ismael e Esaú) quanto às “histórias de famílias”. Você perceberá que as histórias principais de Abraão, Jacó e José estão todas na história de família de seus respecti-vos pais (Terá, Isaque e Jacó)
A narrativa geral de Gênesis, portanto, começa imediatamente após o prólogo (1.1—2.3), com a primeira família humana no jardim do Éden, passando, a partir da família de Adão, por Noé e Sem e chegando,assim, a Terá e Abraão, e passando, finalmente, por Isaque e chegando, assim, a Jacó (Israel), e portanto até José. Ao mesmo tempo, também são fornecidas as linhagens familiares dos filhos rejeitados (Caim, Ismael, Esaú), destacando, assim, o contraste entre a “descendência eleita” e o “irmão rejeitado” (aquela tem uma história, este, só uma genealogia). Finalmente, perceba mais um recurso estrutural que dá forma à maior parte do livro: Deus usa Noé para preservar a vida humana durante o grande dilúvio (caps. 6—9), e usa José para preservar a vida humana durante a grande seca (caps. 37—50).

Orientações para a leitura de Gênesis

À medida que você lê esse primeiro livro da Bíblia, além de saber que a narrativa se desenvolve segundo as histórias de famílias, também atente para a forma como a trama principal, por um lado, e várias subtramas, por outro, cooperam para moldar a história de família mais ampla, que é a história do povo de Deus.
trama principal diz respeito à intervenção de Deus na história da condição caída da humanidade ao escolher (“eleger”) um homem e sua família. Porque embora as famílias de Abraão, de Isaque e de Jacó sejam, por assim dizer, os personagens principais, você não deve jamais esquecer que Deus é o Protagonista último — o que se aplica a todas as narrativas bíblicas. Esta é, acima de tudo, a história dele. Deus fala, e dessa forma cria o mundo e um povo. A história se torna do povo (e nossa) apenas na medida em que Deus traz essa família à existência, faz promessas a ela e realiza com ela uma aliança para ser o seu Deus. Permaneça atento, portanto, à forma como a trama principal se desenvolve, e a como os personagens primários se tornam parte da história de Deus.
Ao mesmo tempo, não deixe de observar as várias tramas menores, que são cruciais para a história maior do povo de Deus no Antigo Testamento — e em alguns casos, também, para a história do povo constituído pela nova aliança. Seis dessas subtramas merecem atenção especial.
A primeira — crucial para toda a história bíblica — é a ocorrência das primeiras duas alianças entre Deus e o seu povo. A primeira aliança é com toda a humanidade, por meio de Noé e seus filhos, prometendo que Deus nunca mais eliminará a vida da terra (9.8-17). A segunda aliança é com Abraão, e promete duas coisas em especial — a dádiva da “semente/descendência” que se tornará uma grande nação para abençoar as nações, e a dádiva da terra (12.2-7; 15.1-21; cf. 17.3-8, em que a aliança é ratificada pela marca identificadora da circuncisão). A segunda aliança é repetida a Isaque (26.3-5) e a Jacó (28.13-15) e serve, por sua vez, como base para as duas alianças seguintes no Antigo Testamento: a dádiva da Lei (Êx 20—24) e a dádiva da monarquia (2Sm 7).
comoler_abiblia_gA segunda subtrama é um pouco sutil no próprio Gênesis, mas é importante para o desenrolar posterior do tema da guerra santa(v. glossário) na história bíblica. Ela começa com a maldição de Deus sobre a serpente, de que Deus porá “inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência [semente] e a descendência dela” (3.14,15). O termo crucial aqui é “descendência” (semente), retomado em 12.7 em relação ao povo escolhido. Essa maldição prenuncia o tema da guerra santa, que é particularmente acentuado em Êxodo (a guerra sendo entre Moisés e o faraó, portanto entre Deus e os deuses do Egito; v. Êx 15.1-18), é desenvolvido na conquista e derrota de Canaã e de seus deuses (o que explica a maldição de Canaã em Gn 9.25-27) e culmina no Novo Testamento (na história de Jesus Cristo, e esp. em Apocalipse). Embora  em Gênesis esse tema não assuma a forma da guerra santa propriamente, pode se vê-la, não obstante, especialmente no conflito entre irmãos, ou seja, entre a descendência divina e a não divina (Caim/Abel; Ismael/Isaque; Esaú/Jacó), em que o mais velho persegue o mais novo, por meio de quem Deus escolheu operar (v. Gl 4.29).
A escolha, por parte de Deus, do mais jovem (ou do mais fraco, ou  do mais improvável) para levar adiante a descendência justa é uma terceira subtrama que começa em Gênesis. Aqui, ela assume duas formas em particular que são, então, repetidas ao longo da história bíblica.  Em primeiro lugar, Deus regularmente ignora o filho primogênito na  execução dos seus propósitos (uma ruptura considerável, da parte de  Deus, com as normas culturais então correntes): não Caim, mas Sete; não Ismael, mas Isaque; não Esaú, mas Jacó; não Rúben, mas Judá. Em segundo lugar, a descendência divina frequentemente é gerada por uma mulher antes estéril (Sara, 18.11,12; Rebeca, 25.21; Raquel, 29.31). À medida que você lê a história bíblica inteira, é uma boa ideia prestar atenção nesse tema recorrente (v., p. ex., 1Sm 1.1—2.11; Lc 1).
Ligado a esse tema está o fato de que os escolhidos não devem a escolha de Deus à própria bondade; aliás, os defeitos desses escolhidos são fielmente narrados (Abraão em Gn 12.10-20; Isaque em 26.1-11; Jacó ao longo da sua narrativa [repare no quanto a família no capítulo 37 é disfuncional!]; Judá em 38.1-30). Deus não os escolhe em vista do caráter inerente deles; o que faz deles a descendência santa, antes, é que eles confiaram, no final, em Deus e na sua promessa de que seriam o seu povo — um povo extraordinariamente numeroso — e de que herdariam a terra à qual primeiro vieram como estrangeiros.
Uma quarta subtrama vem à tona mais tarde na história, em que Judá assume o papel de líder entre os irmãos na longa narrativa de José (caps. 37—50). Ele aparece pela primeira vez no capítulo 38, em que suas fraquezas e sua pecaminosidade são expostas. Mas seu papel principal tem início em 43.8,9, em que ele garante a segurança de seu irmão Benjamim, e atinge o clímax com sua disposição em tomar o lugar de Benjamim, em 44.18-34. Tudo isso prenuncia a bênção de Jacó em 49.8-12, segundo a qual o “cetro não se afastará de Judá” (apontando para o reino davídico e, indo além deste, para Jesus Cristo).
Uma quinta subtrama é encontrada na prenunciação do “capítulo” seguinte na história — a escravidão no Egito. O interesse no Egito começa com a genealogia de Cam (10.13,14; Mizraim é o termo hebraico para “Egito”). A narrativa familiar básica (de Abraão até José) começa com uma fome que leva Abraão até o Egito (12.10-20) e conclui com outra fome que leva Jacó e toda a sua família a se estabelecer no Egito, enquanto Isaque, na sua viagem para o Egito durante ainda outra fome, recebe a ordem expressa de não ir até lá (26.1-5).
Finalmente, o interesse em detalhar as origens dos vizinhos próximos de Israel, que se lhe tornam espinhos na carne ao longo da  história do Antigo Testamento, forma uma sexta subtrama. Além dos  personagens principais, Egito e Canaã (10.13-19), observe também, respectivamente, Moabe e Amom (19.30-38), Edom (25.23; 27.39,40;  36.1-43), e o papel menor de Ismael (39.1; cf. Sl 83.6)

Trecho do 1º capítulo do livro “Como Ler a Bíblia Livro por Livro” de Gordon D. Fee e Douglas Stuart (Edições Vida Nova)


Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 8/8)-ENTREGUE-SE A PROPÓSITOS NOBRES

Eu vejo jovens cristãos na universidade desperdiçando o seu tempo jogando vídeo-game, indo a shoppings e cinemas. Eles deveriam estar buscando objetivos mais nobres! Você foi não comprado pelo sangue do Cordeiro para dar-se a tais coisas. Você foi adotado em uma família real e feitos nobres são esperados de você. Evite o entretenimento despreocupado da idade e se entregue à vontade de Deus. As Escrituras declaram em II Timóteo 2:20-21:
“Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra.”
Você deseja ser um vaso para honra e usado para propósitos nobres? Você deseja ser um instrumento nas mãos do Mestre? Então se livre dos jogos tolos de menininhos e menininhas fúteis, e torne-se o homem ou mulher que você foi chamado para ser. Acredito que foi A.W. Tozer quem disse que na lápide da América seriam escritas as palavras, “Eles se divertiram até a morte”. Isto é um epitáfio patético, quando comparado ao que foi dito sobre o Rei Davi:
“ [Ele] serviu ao propósito de Deus na sua própria geração, caiu adormecido, e foi posto junto de seu pais … ”
Que legado você deixará? O que será esculpido na sua lápide? Mais importante, o que irá Deus declarar sobre a sua vida durante o grande Dia do Juízo que o espera? Que Deus possa ter misericórdia de você e conceder-lhe graça para superar de longe o caráter e feitos daquele que lhe está escrevendo esta carta.
Seu irmão,
– Paul Washer
Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio
Revisão: Vinícius M. Pimentel

Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 7/8)-FUJA DAS PAIXÕES DA MOCIDADE

Em Efésios 6:10-12, você é ordenado a resistir ao diabo. Em Tiago 4:7 há a garantia que se você resistir a ele, ele fugirá de você. Ainda assim, em II Timóteo 2:22 você é ordenado a fugir das paixões da mocidade. É um tanto assombroso ver que você é ordenado a ser forte, resistir e lutar contra anjos caídos, e ao mesmo tempo, você é ordenado a fugir com medo das paixões da mocidade. Isto demonstra que a paixão da sua carne e a sensualidade desenfreada da sua cultura é mais perigosa do que uma batalha face a face com o diabo.
Eu conheço inúmeros jovens cristãos que demonstraram evidências genuínas de conversão, e ainda assim ao entrar em uma relação com o sexo oposto, eles caíram em imoralidade. Eu sei que eles memorizam as Sagradas Escrituras, oram, e até jejuam para serem puros na sua relação, e mesmo assim eles caíram. Por quê? Porque eles não entenderam que todas as disciplinas espirituais das Sagradas Escrituras não poderiam salvá-los das paixões da juventude. Eles tentavam lutar uma batalha enquanto Deus ordenou eles a fugir. Resumindo: Você não pode ficar sozinho em um relacionamento com uma pessoa do sexo oposto durante um período extenso de tempo sem cair. Por isso, vocês nunca devem ficar sozinhos em uma casa, carro, ou qualquer outro lugar onde a luxúria e os desejos podem ser acesos e o fracasso é certo.

Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio
Revisão: Vinícius M. Pimentel

domingo, 13 de novembro de 2016

Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 6/8)-PROCURE COMPANHEIROS DEVOTOS

Correndo o risco de lhe ofender, eu devo dizer que se você for jovem, há provavelmente muitas coisas tolas ainda amarradas em seu coração (Provérbios 22: 15). Se as maiores influências em sua vida são outros jovens como você, então você é um companheiro de tolos e está andan-do um caminho perigoso. As Escrituras ensinam uma verdade que pode salvar vidas, mas que é muitas vezes negligenciada hoje:

“Aquele que anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas
o companheiro dos tolos acabará mal.” (Provérbios 13: 20; NVI)
. . A idéia de um “abismo entre as gerações” nasceu da contracultura sem Deus da dos anos 60 e foi completamente adotada agora pela maior parte de igrejas. A idéia que pessoas jovens têm de estar com outras pessoas jovens é uma direta contradição às Sagradas Escrituras. Embora momentos com outros jovens possam ser tanto agradável como útil, as Sagradas Escrituras ensinam que cristãos jovens têm de estar com os cristãos mais velhos e mais maduros para que eles possam aprender os seus caminhos e evitar as ciladas da juventude e da inexperiência.
. . Segundo as Escrituras, as maiores influências na sua vida devem ser os seus pais, na condição que eles sejam devotos e maduros. Depois deles, é o papel dos anciãos da igreja e de toda congregação adulta modelar a vida cristã para você. Resumindo, você fará bem em rodear-se de homens e mulheres cujo progresso em santificação e serviço a Deus é evidente. Conheça não só os cristãos de nosso tempo, mas também os santos do passado pelos seus escritos e os escritos de outros sobre eles.
Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio
Revisão: Vinícius M. Pimentel

Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 5/8)-ORE

Eu divido a minha oração em duas categorias distintas: Oração nos meus sapatos de passeio e oração nas minhas botas de trabalho. A primeira categoria refere-se à comunhão, adoração, e ação de graças. É andar com o Deus como um companheiro presente em todos os momentos, desfrutando de sua companhia, e buscando maiores e maiores manifestações da Sua presença. Este tipo de oração tem um objetivo – conhecê-lo e simplesmente “estar” com Ele. Sem este tipo de oração, todo o conhecimento na sua cabeça nunca será nada mais do que jargões teológicos de segunda mão. Você passará a sua vida inteira falando corretamente de alguém que você nem sabe quem é e sobre coisas que nunca se tornaram realidades em a sua vida.. . Ouvi pessoas dizerem que elas não têm um tempo específico com Deus deste jeito, mas eles conversam com Deus durante o dia enquanto eles fazem suas atividades diárias. A minha experiência diz que a capacidade de “praticar a presença de Deus” através do dia e no meio de minhas atividades só são possíveis porque eu separei-me das minhas atividades diárias e busquei a Deus em tempos específicos de oração. Isto parece ter sido a prática do nosso Senhor Jesus Cristo durante a sua encarnação:
. . “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando.” (Marcos 1:35).
. . A segunda categoria de oração – oração nas minhas botas de trabalho – refere-se à oração intercessória. Não deixe ninguém o enganar. Este tipo de oração é trabalho duro! Não é uma pequena coisa para um homem mortal lutar com Deus (Gênesis 32:24-32) e contra o diabo (Efésios 6:12). Os desafios são altos e tudo é ganho ou perdido neste campo de batalha. Perseveramos em oração para a glória de Deus, a Grande Comissão, e o avanço do Reino (Mateus 6:9-10); perseveramos em oração pela preservação e santificação da Igreja; trabalhamos em oração para cada necessidade e para o cumprimento de cada promessa que Deus deu. Isto pode muito bem ser a tarefa mais sagrada dada a homens!. . Terminarei o tópico da oração com um conselho que foi muito útil para mim. Foi-me dado por um pregador mais velho, que o recebeu de um pregador ainda mais velho. É algo assim:
“Ore até que você possa orar, e então ore até que você tenha orado.”
. . Muitas vezes, quando curvamos os nossos joelhos em oração, nós não sentimos a liberdade ou poder para orar. Parece que há um céu de bronze em cima de nós. Isto não deve ser uma causa de desânimo, mas isto deve levar-nos a lutar em oração até que tenhamos “rompido os céus” até Deus. E é então que devemos pôr-nos a orar até que as nossas cargas tenham sido levadas e saibamos que, de fato, oramos.
Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio
Revisão: Vinícius M. Pimentel

Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 4/8)-LEIA A BÍBLIA

Eis agora uma novidade! Uma das maiores coisas que um jovem cristão pode fazer é a prática de ler a Bíblia sistematicamente de Gênesis a Apocalipse repetidas vezes ao longo da vida. Se você pode, faça assim nas línguas originais que é até melhor, mas eu só conheço um punhado de homens que são capazes de tal coisa, e não sou um deles.
A maior parte do conhecimento dos cristãos das Escrituras é muito fragmentado, porque eles só leram partes da Bíblia. Conheci indivíduos que eram brilhantes em certos aspectos de doutrina, mas muito fracos no conhecimento geral da Bíblia. Para evitar este buraco, você deve ler a Bíblia SISTEMATICAMENTE de capa a capa. Ninguém em sã consciência leria um livro de literatura saltando para cá e para lá pelo livro e lendo só certos capítulos. Eles começariam do começo e seguiriam progressivamente pelo livro, capítulo por capítulo, até que eles chegassem ao fim. E ainda assim, muitos poucos cristãos já leram a Bíblia deste jeito! Lembre-se: a Bíblia é a Palavra inspirada e infalível de Deus entregue a nós em forma de livro. Para entendê-la no total e em parte, devemos ler toda ela!
Um dos modos mais recompensadores de aprender as Escrituras é escrever as suas reflexões e perguntas enquanto você lê. Cada vez que você passar pelas Sagradas Escrituras você notará isto: você é capaz de responder muitos das suas velhas perguntas e que novas perguntas vieram a mente. Você também será capaz de refinar e clarear muitos das suas reflexões prévias. Desta forma, você aprenderá que a Bíblia é o melhor comentário dela mesma.
Uma palavra de alerta: a maior parte de pessoas nunca lê a Bíblia inteira porque eles se desgastam tentando entender tudo, ou tentam escrever um comentário em cada livro. Ofereço duas sugestões: primeiro, não fique atolado. Escreva breves resumos e as perguntas e continue lendo. Em segundo lugar, só escreva aquelas reflexões que Deus colocou sobre o seu coração para lembrar-se. SEJA BREVE! Já temos bastantes comentários para levar à falência cada estudante de seminário na terra!
A um cristão jovem, a Bíblia pode parecer incrível. Isto nunca se modificará. A Bíblia é incrível! Ela contém mais verdades sobre Deus do que qualquer homem irá compreender ou obedecer. Ainda assim, é uma magnífica viagem ler por suas páginas e não só aprender, mas ser transformado. O Cristianismo requere que a mente esteja totalmente engajada, mas não apenas ou até principalmente sobre o intelecto. É sobre conhecer Deus de um modo pessoal e íntimo, e ser transformado na semelhança de Seu Filho. Não fique desencorajado! Cada dia que você lê à Palavra de Deus faz com que conseqüentemente você chegue a anos de estudo e uma riqueza de conhecimento bíblico. Cada dia perdido reduzirá o tamanho deste tesouro final.
– Paul Washer | Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio Revisão: Vinícius M. Pimentel

sábado, 12 de novembro de 2016

Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 3/8)-ESTABELEÇA O SEU CORAÇÃO PARA SEGUÍ-LO

Estou hesitante em usar este tipo de linguagem com você porque temo que você entenderá errado. Para a maior parte dos Cristãos, a admoestação “seguir a Deus ” traz pensamentos de dever, obediência, e ministério, mas essas coisas por elas mesmas somente o deixaram cansado, sem vida e amargurado. Eu já estive neste caminho e eu farei tudo ao meu alcance para livrá-lo dele. Ele leva a um lugar horrível!
Quando falo de seguir a Ele, estou primeiramente me referindo a relacionar-se com Sua pessoa; reconhecê-lo e compartilhar com Ele cada experiência; comprometer-se em não se esconder dEle ou deixá-lo fora de algumas áreas da sua vida; ver tudo como sagrado e nada como mundano; permitir que Ele tenha proeminência em cada momento da sua vida, cada pensamento na sua cabeça, cada palavra que provém da sua boca, e cada trabalho que você se esforça em fazer – andar, falar, comer, beber, rir, gritar, trabalhar, jogar – experimentando tudo isto Nele, por Ele, para Ele, e acima de tudo COM Ele!
Você percebe como você pode fazer qualquer coisa pelas razões erradas? Você pode ter um ministério pela satisfação pessoal ou pela fama que ele pode trazer. Você pode até crescer em conhecimento e piedade pela reputação que isso pode trazer para você entre outros crentes. Mas é o coração verdadeiro e fiel que busca só estar com Ele pela motivação de estar com Ele!
Você pode considerar-me um cristão maduro, que aprendeu muitas coisas, mas eu estive tão errado de tantas formas. E este foi o meu maior erro: eu sempre me esforcei muito para realizar algo, quando eu deveria ter me esforçado muito somente para estar com Ele! Sim, meu caro jovem cristão, você pode até desperdiçar momentos preciosos da sua vida no trabalho de ministério e missões!
Lembre-se disto: confinar Deus a um tempo de meditação é grotesco, reduzir o discipulado a somente obediência é patético, e fazer do ministério outra coisa que não a vida de Cristo fluindo do seu íntimo relacionamento com Ele é fazer nada mais que um trabalho estúpido da carne.
Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio
Revisão: Vinícius M. Pimentel

Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 2/8)-LEMBRE-SE DO SEU CRIADOR

Conhecendo algo da brevidade da vida, “Como então viveremos?”. O escritor de Eclesiastes responde a esta pergunta para nós na forma de uma ordem:
“Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude…” (Eclesiastes 12: 1).
A palavra “lembrar” vem do hebreu “zakar” que significa chamar ou trazer à memória. Esta ordem de lembrar-se de Deus é mais que uma lembrança casual que há um Deus. Ela significa mais do que simplesmente curvar a sua cabeça cada vez que você passa pela igreja. Não é uma ordem cumprida simplesmente indo à igreja cada vez que as portas se abrem. É uma ordem radical e transformadora de vida para conhecermos e entendermos o Deus das Escrituras, reconhecermos a sua soberania em todas as coisas, buscarmos a sua glória em todas as coisas, e esforçarmo-nos para obedecer Ele em todas as coisas.
A grande importância desta ordem fica clara quando você se lembra que vocês são constantemente bombardeados com distrações temporais projetadas para fazê-lo esquecer do valor de Deus e dos prazeres da Sua vontade. A menos que você proponha o seu coração a lembrar-se de Deus e usar cada meio a sua disposição para permanecer fiel àquele propósito, você cairá em vaidade e a sua vida será desperdiçada! Considere cuidadosamente o que escrevi. Não estou pedindo que você simplesmente concorde comigo. Estou suplicando para que você PROPONHA em seu coração fixar os seus olhos em Deus como se a sua vida dependesse disso (porque depende) e a ativamente, agressivamente, até violentamente (Mateus 11.12) procurar e usar cada meio ao seu alcance para impedir ser distraído e cair na vaidade desta geração perversa!
É importante observar que o pregador de Eclesiastes não só nos ordena a lembrarmos de Deus, mas ele nos diz o tempo mais conveniente para fazer isto – os dias da nossa juventude. Não é bom preparar-se para uma batalha no fim da batalha, ou esperar até a última volta da corrida para amarrar o seu tênis. Do mesmo modo, é uma idéia ridícula (encontrada na cabeça de muitos jovens) que devemos adiar viver para Deus até o fim da vida e geralmente depois que boa parte da vida foi desperdiçada. Não seja como o filho pródigo que “caiu em si” só depois de desperdiçar a sua fortuna e a força da sua juventude. Caia em si nos dias do início da sua vida. Estabeleça o seu coração para buscar a Deus agora – para conhecê-Lo, adorá-Lo, servi-Lo, e alegrar-se na bondade dEle. Como alguém mais velho do que você, como um embaixador para Cristo, como se Deus mesmo fizesse um apelo através de mim, peço-o em nome Cristo, não desperdice a sua vida.
“Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão,
e o seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz?
Escutem, escutem-me, e comam o que é bom,
e a alma de vocês se deliciará com a mais fina refeição.”
(Isaias 55:2; NVI).
Por: Paul Washer
Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006 
Tradução: Zeemidio
Revisão: Vinícius M. Pimentel

Paul Washer – Uma Palavra aos Jovens (Parte 1/8)- LEMBRE-SE DA BREVIDADE DA VIDA

Ao longo dos últimos dias senti-me compelido escrever a seguinte palavra para a juventude que recebe esta publicação. Eu peço a você para considerar em espírito de oração as coisas que você vai ler. Se você encontrar alguma verdade no que está escrito, quero admoestá-lo para ajustar sua vida ao que você leu. Não desperdice sua vida!


O primeiro homem foi criado à imagem de Deus. Se ele tivesse se submetido à vontade de Deus, ele teria sido imortal. Ele passaria pelos anos da sua interminável existência de força a força, sem deterioração ou decadência. A passagem do tempo o teria levado a maiores níveis de maturidade, contentamento, e alegria. Sua existência teria abundado com propósitos e glória.
Com o advento do pecado, tudo foi perdido, e a existência dos homens tornou-se tragicamente distorcida e deformada acima de reconhecimento. O homem ficou um mortal de breve duração, cansaços, e futilidades. Ele agora vive a sua vida até que toda a sua vitalidade é esgotada, todos os seus propósitos são demolidos, e o corpo finalmente volta ao pó do qual ele veio. Não é sem razão que o pregador grita, “Vaidade de vaidades! Tudo é a vaidade” (Eclesiastes 1:2).
Como um moço ou moça, você deve constantemente lutar contra a tentação de esquecer-se da brevidade da vida e da vaidade, até da vida mais longa, vivida fora da vontade de Deus. Você deve aprender das Sagradas Escrituras que a sua vida é menos que um vapor. Você deve ficar convencido desta verdade, e, então, você deve estabelecê-la diante de você como um lembrete constante. Você é mortal e os seus dias são numerados!
“Quanto ao homem, os seus dias são como a erva,
como a flor do campo assim floresce.
Passando por ela o vento, logo se vai,
e o seu lugar não será mais conhecido.”
(Salmo 103: 15, 16; ACF).
“Vocês são como a neblina que aparece
por um pouco de tempo e depois se dissipa.”
(Tiago 4: 14; NVI).
Você sabe que a Bíblia é verdadeira. Você sabe que a morte é uma certeza para você. Cada lápide e elegia testemunha a realidade inescapável que você vai morrer. E mesmo assim, como é que você tão rapidamente se esquece e se entrega às vaidades passageiras desta vida? É porque você é rodeado por uma cultura que faz tudo ao seu alcance para evitar algum pensamento sobre o fim de vida. É porque o deus deste século trabalha com toda a sua astúcia para mantê-lo entretido e distraído. É porque, embora você tenha sido remido, você ainda vive em um corpo da carne, decaído, que corre para tudo que é carnal e temporal. Conhecendo essas coisas, você faria bem em memorizar e orar muito a oração de Davi no Salmo 39: 4:
“Mostra-me, Senhor, o fim da minha vida
e o número dos meus dias,
para que eu saiba quão frágil sou.” (NVI)
Manter a sua mortalidade na frente de seus pensamentos não tem como objetivo ser mórbido ou se lamentar como aqueles que não têm nenhuma esperança, mas compeli-lo a esperar em Cristo somente e dar-se de todo coração à Sua vontade para sua vida. Só em Cristo a sepultura é consumida pela vitória, e a futilidade temporal substituída pelo propósito eterno e glorioso de Deus para você.
– Paul Washer

O Mundo e o Cristão - Parte Final

"Quando Deus criou as artes, deu a elas um lugar no mundo, ao qual chamou de bom. A arte existe porque Deus quis que existisse. Ela tem função e significado próprios" - Hans Rookmaaker
Há lugar para músicas, poesias, enfim, arte de um modo geral, na vida cristã?
Na Bíblia, claramente percebemos o envolvimento que homens de Deus tinham com as artes não cristãs. Percebemos que, em seu dia a dia, havia um espaço para o conhecimento das mesmas.
Paulo demonstra que conhecia arte pagã. Chega a citá-la em sua epístola à Tito e em sua pregação no areópago, em Atenas. Aqui, Paulo curiosamente age de modo diferente de como faz em outras de suas pregações. Ele cita o filósofo Epimênedes acerca de Zeus: "Os cretenses, sempre mentirosos, bestas más, ventres preguiçosos, forjaram uma tumba para ti, oh santo e elevado. Mas tu não estás morto. Tu vives e permaneces para sempre. Porque em ti vivemos, nos movemos e temos nosso ser".
E, na pregação de Atenas, além de citar Epimênedes, Paulo cita Arato: "Comecemos com Zeus. Nunca deixemos de mencioná-lo, oh mortais! Todos os caminhos e todos os locais onde os homens se reúnem estão plenos de Zeus. Em todos os nossos assuntos temos que ver Zeus, porque somos também sua geração."
Paulo cita pagãos para pagãos. Todavia, sua mensagem principal era o Evangelho. E é exatamente por causa disso que eles dispensaram a Paulo e disseram que o ouviriam em outra ocasião.
Veja nas próprias palavras de Paulo algumas referências a poetas pagãos:"Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração" (Atos 17:27-28); e também aqui: "Aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância. Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé" (Tito 1:11-13).
Estes exemplos do uso que Paulo fazia não nos servem para legitimar o consumo e apreciação pelas artes não cristãs, mas servem para nos mostrar que Paulo as conhecia, e de cor.
Não podemos confundir tudo isso com uma licenciosidade para ouvir todo e qualquer tipo de música, filme ou poema pagãos. Não. Somos orientados pela Palavra de Deus a não preenchermos nossas mentes com aquilo que não nos edifica (Fl 4.8).
Todavia, não precisamos chegar ao ponto de considerarmos demoníacas toda forma de expressão artística não cristã. Vejamos como os cristãos têm tratado isso ao longo da história.
Como escreveu Henderik Roelof "Hans" Rookmaaker, "quando Deus criou as artes, deu a elas um lugar no mundo, ao qual chamou de bom. A arte existe porque Deus quis que existisse. Ela tem função e significado próprios".
Este tem sido o entendimento da grande maioria dos cristãos, desde o início. As artes, por mais deturpadas que estejam, não devem ser vistas como algo pervertido em si. Substancialmente, se pudermos assim colocar, as artes foram criadas como um fim para comunicar beleza e atributos.
Ao pesquisarmos a história da igreja primitiva, percebemos de modo abundante a utilização de elementos artísticos para expressar sua fé. Sejam em pinturas na parede de cavernas, em letras ou animais desenhados ou lapidados em rocha, ou ainda em vitrais que expressavam a história da redenção, a fé dos cristãos sempre encontrou seu lugar nas artes.
Isso, sem mencionar uma infinidade de hinos, livros e poesias que serviam como forma de expressarem sua fé.
Desde o início, os cristão usam imagens, símbolos, pinturas, músicas, enfim, arte para expressar sua fé. Imagens como o peixe, o cordeiro, o leão e a âncora, por exemplo, eram extraídas dos textos inspirados da Bíblia e usadas no dia a dia dos cristãos.
Durante a reforma protestante, os reformadores continuaram dando às artes um lugar de destaque. Veja Calvino: "Que mui excelentes dons do Espírito Divino são estes, que, para o bem comum do gênero humano, dispensa a quem quer [...]. Se o Senhor nos quis deste modo ajudados pela obra e ministério dos ímpios na física, na dialética, na matemática e nas demais áreas do saber, façamos uso destas para que não soframos o justo castigo de nossa displicência, se negligenciarmos as dádivas de Deus nela graciosamente oferecidas".
Ainda comentando o livro de Êxodo 31:1-5, João Calvino afirma: "Todas as artes emanam dEle, e, portanto, devem ser reconhecidas como invenções divinas [...] portanto, devemos concluir que qualquer habilidade possuída por qualquer pessoa emana de uma única fonte, e é conferida por Deus".
Perceba, então, que na tradição cristã as artes sempre ocuparam um lugar legítimo e específico.
Mas, e na adoração comunitária? Qual o lugar das artes? Devemos usá-las? De qual forma?
Lembro-me da seguinte afirmação de C. S. Lewis: "Não gostei muito dos hinos deles, que considerei poema de quinta categoria em música de sexta. Mas com o tempo, vi seu grande mérito. Eu fui confrontado com pessoas de visões e educações diferentes, e gradualmente meu conceito começou a se desfazer. Eu percebi que os hinos (que eram apenas música de sexta categoria) estavam, no entanto, sendo cantados com devoção e benevolência por um santo idoso calçado em botas simples no banco oposto, então você compreende que não é digno de limpar essas botas. Isso faz você se libertar dessa presunção."
Aqui, Lewis compreende algo especial sobre a adoração comunitária: ela é simples; é pautada na simplicidade. Tal simplicidade tem o objetivo de ser inclusiva. Ela possibilita a todos participarem, todos cantarem, todos lerem, todos cultuarem como se fossem um (e o são!).
Efésios 5:19 e Colossences 3:16 nos recomenda adorarmos a Deus com simplicidade e devoção. São mencionados hinos, salmos e cânticos. Todavia, não são estas expressões artísticas que nos unem, mas o que é expressado por meio deles: a majestade de Deus, a glória de Cristo, a cruz, o amor de Deus. Independente do que cantamos, de como cantamos, nossas canções devem refletir isso.
E quanto aos estilos? À forma? Creio que aqui, mais uma vez, Calvino possa nos ajudar: "Mas, porque nas cerimônias não quis ele prescrever minuciosamente o que devamos seguir (porque isto previne depender da condição dos tempos, nem julgaria convir a todos os séculos uma forma única). Enfim, porque Deus nada ensinou expresso nesta área, porquanto essas coisas não são necessárias à salvação e devem acomodar-se variadamente para a edificação da Igreja, segundo os costumes de cada povo e do tempo. De fato reconheço que se deve recorrer à inovação não inconsiderada, nem seguidamente, nem por causas triviais. O que, porém, prejudica ou edifica, melhor o julgará a caridade, a qual se permitirmos seja a moderatriz, tudo estará a salvo."
Kevin DeYoung, um jovem pastor reformado norte-americano, afirma que"nosso primeiro objetivo não deve ser conquistar a cultura ou apelar para o não regenerado. Adoração é para o Único Digno".
Posto isto, afirmo que nossas músicas devem refletir, de certo modo, a unidade em meio a nossa diversidade. Devemos fazer o que fizermos com excelência, expressando todo o Conselho de Deus em nossas canções ou poemas.
Portanto, nunca perca seu foco em um culto comunitário. Você vai ali para adorar a Deus, e não para reparar nas pessoas ou suas expressões.
Concluindo, creio que, no Brasil, a grande maioria das pessoas vive debaixo de uma opressão espiritual. Tal opressão as impede de perceber beleza nas artes. Barulhos são chamados de música e rabiscos são chamados de pintura. Contudo, são, do meu ponto de vista, uma forma espiritual de manter pessoas distantes do que a arte pode mesmo comunicar em termos de beleza e ensino.
Sim, eu creio que a arte pode nos ensinar. Mais que isso. Creio que a arte pode me levar a adorar a Deus. Quando ouço uma jovem tocando de modo excepcional um violão, ou um adolescente pintando maravilhosamente um quadro, ou um senhor escrevendo uma linda poesia sobre o campo, tudo isso me leva a louvar a Deus, pois eu sei que a fonte de toda a beleza não poderia vir de outro lugar que não dEle.
Sim, a arte pintada, cantada, tocada, escrita, filmada, declamada me leva a adorar a Deus. A perversão da arte está no adorar da criatura, do artista, ao invés de adorarmos aquele que lhe deu o dom, o Criador.
Que, em nossa relação com o mundo, também saibamos, com equilíbrio e bom senso, nos relacionar com as músicas, poesias, literatura, teatro, cinema, exposição de quadros, enfim, com toda sorte de expressão artística de modo a redimi-la.
Seja excelente em tudo o que fizer e não deixe de louvar a Deus quando vir a excelência da glória e da graça de Deus na vida de um pagão, quando este expressar, de forma brilhante, o seu dom. Louve a Deus pela beleza da arte e não deixe de fazer o que faz da melhor forma possível. Dê glória a Deus e faça tudo para a glória de Deus.
Wilson Porte Jr.
É bacharel em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida e mestre em Teologia-histórica pelo Centro de Pós Graduação Andrew Jumper. É pastor da Igreja Batista Liberdade (SP) e professor no Seminário Martin Bucer e na Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares. Wilson Porte é casado com Rosana e pai de Natan e Ana.

O Mundo e o Cristão - Parte 5

O mundo sempre será um lugar encantador para o cristão. Não adianta achar que um dia você acordará sem nenhuma vontade de pecar. Tal dia nunca chegará debaixo do sol. Está e estará em mim e em você a natureza pecaminosa até o dia em que nossa carne falecer e nosso espírito for para as mãos daquele que nos resgatou. Até aquele dia, precisaremos "matar um leão por dia", como diz um amigo que luta contra o vício das drogas.
No artigo passado, vimos como devemos estar atentos contra o desejo do nosso coração de agir sem nos preocuparmos com o que as demais pessoas estão pensando de nós. Vimos que agir sem pensar em ninguém é egoísmo. Achar que cada um deve cuidar de sua própria vida e que nós devemos nos preocupar em fazer tão somente o que queremos é errado. Vimos que, embora a Bíblia não proíba certas coisas, ela nos ordena "fugir da aparência do mal" (1Ts 5.22).
Pretendo refletir nesse pequeno artigo sobre a nossa relação com as leis. Há, infelizmente, uma compreensão um pouco equivocada na mente de alguns cristãos. Segundo estes, o uso de drogas como a maconha, por exemplo, não é necessariamente um erro, pois além da Bíblia não proibi-la, em Gênesis 2.15-17, Deus diz a Adão que ele poderia fazer uso de todas as árvores/plantas/ervas do jardim. Segundo a afirmação destes, Deus ali concedia a Adão a permissão de usar, inclusive, a maconha.
Este é apenas um argumento. Há muitos outros relacionados a outras drogas ilícitas, a pagamento de impostos, etc. O argumento é sempre o mesmo: se a Bíblia não proíbe, então não me preocuparei.
Como já escrevi nos primeiros artigos, não creio que esse pensamento esteja correto. Em Romanos 13.1-7, Paulo nos orienta a obedecermos às autoridades superiores. Eles são colocados no poder como ministros de Deus, tanto para abençoar quanto para punir um povo. E são eles que criam as leis que esse povo deverá cumprir. Uma vez criada, a lei deve ser obedecida. E desobedecê-la significa desobedecer a Deus. Só nos é permitida a desobediência às leis no caso delas nos levarem ao pecado. Quando isso acontecer, "mais importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5.29).
Portanto, se a lei me proíbe de fumar maconha, eu não fumarei. Se a lei diz que eu devo pagar impostos, eu os pagarei. Não agir segundo este raciocínio é desobedecer ao próprio Deus.
Mas o que faremos se o uso da maconha for descriminalizado? Passaremos a fumar maconha? Beberemos o seu chá? Pois bem, creio que também devemos nos lembrar que entre nós e o mundo está o bom senso. Mais uma vez aplica-se o princípio de que devemos nos abster, fugir de toda e qualquer aparência de mal. Isso não significa que a coisa em si é má. Talvez ela não seja! Talvez seja até boa, lícita. Mas, se ela der a alguém a aparência de que estamos agindo mal, devemos negá-la.
Sei que isso pode parecer pueril ou até mesmo tolo para alguém. Todavia, não creio que era para o apóstolo Paulo. Infelizmente, vivemos rodeados pela cultura do consumo e do narcisismo. Queremos ser satisfeitos e agradados o tempo todo. Queremos o que queremos e o queremos agora! Mas isso não é certo! Precisamos entender que a nossa cultura caminha na mesma direção da proposta que a serpente fez para Eva. Queremos ser deuses, plenamente satisfeitos e adorados. Queremos ser senhores de nossas vidas, não importando o que Deus ou os homens pensem de nós. Não há respeito ou temor pelo outro nem mesmo por Deus!
Portanto, embora o mundo seja encantador para nós, não devemos nos esquecer que fomos desarraigados dele. Nossas raízes não estão mais nele. Embora ainda não o tenhamos deixado completamente, precisamos conhecer bem os limites de nossa relação com ele. Nunca nos esqueçamos das palavras de Paulo: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma" (1Co 6.12).
No próximo artigo da série, tratarei sobre nossa relação com a chamada "música do mundo". Até lá!
Wilson Porte Jr.
É bacharel em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida e mestre em Teologia-histórica pelo Centro de Pós Graduação Andrew Jumper. É pastor da Igreja Batista Liberdade (SP) e professor no Seminário Martin Bucer e na Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares. Wilson Porte é casado com Rosana e pai de Natan e Ana.

O Mundo e o Cristão - Parte 4

O mundo é tentador, e toda tentação nos move a arrumarmos desculpas e meios para que cedamos a elas sem dor na consciência. O fato é que, quando queremos pecar, arrumamos um meio e, muitas vezes, uma desculpa para pecarmos. E o que mais encontramos na internet hoje são pessoas escrevendo sobre meios de pecar sem se preocupar com isso. Pessoas reinterpretando ou ressignificando tudo o que o cristianismo considerou pecado em dois milênios.
Quando alguns cristãos começam a tratar de pontos nos quais a Bíblia não é clara, muitos gostam de dizer que, "se a Bíblia não proíbe, então, é sinal que Deus não liga se fizermos". O pensamento dessas pessoas está recheado de malícia, malícia típica de quem está doido para pecar. Explico. Quando chegamos ao ponto de afirmar que podemos fumar maconha, transar antes do casamento, sair pra balada, etc., isso é sinal que pulamos uma fase importante do pensamento cristão. Todo cristão deve meditar no fato de que entre nós e o mundo, está Deus! Vivemos diante da face de Deus. Não há um segundo de nossas vidas que deve ser vivido sem que nos lembremos dEle e pensemos se o que estamos fazendo o agrada ou entristece. Se não O considerarmos em tudo o que vivemos, corremos o risco de fazermos algo que O esteja ferindo.
Não podemos nos esquecer também que, entre nós e o mundo, está nosso próximo. Se, por um lado, a Bíblia não diz "não beberás cerveja", por outro lado, ela diz que devemos "fugir da aparência do mal". Aqui, muitas pessoas dizem que, se alguém quiser pensar ou dizer algo sobre elas, que elas não estão nem aí. Que cada um deve cuidar de sua própria vida, e que elas não se importam com o que os outros pensam. Particularmente, entendo que tal pensamento está errado. Creio que devemos nos preocupar sim com o que estão pensando de nós. Sobretudo quando estamos entre não convertidos.
Paulo vai dizer aos coríntios em 1Coríntios 10 que, até mesmo se um novo convertido se sentir constrangido ou escandalizado com certa atitude nossa, que devemos deixar de fazer para não nos tornarmos pedra de tropeço para nosso próximo, seja ele regenerado ou não.
Então, veja, não há na Bíblia essa falsa liberdade de que pode-se agir como bem quiser. Paulo disse que tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém. Agir contra isso é egoísmo. E egoísmo deve ser confessado com arrependimento e abandonado.
Em nosso próximo artigo, continuaremos refletindo sobre isso. Até lá!
Wilson Porte Jr.
É bacharel em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida e mestre em Teologia-histórica pelo Centro de Pós Graduação Andrew Jumper. É pastor da Igreja Batista Liberdade (SP) e professor no Seminário Martin Bucer e na Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares. Wilson Porte é casado com Rosana e pai de Natan e Ana.