sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada" (2/57)





A DOUTRINA DE DEUS — OS NOMES DE DEUS

“Deus é Espírito, infinito, eterno e imutável, em Seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade, e verdade” (Breve Catecismo de Westminster, Questão 4). Consequentemente, Ele é incompreensível; o homem é incapaz de pensar sobre tudo o que Deus é. Desta forma, qualquer auto-revelação da parte de Deus, é um ato gracioso e condescendente de Deus para com a compreensão limitada do homem.

Os nomes (ou títulos) de Deus são alguns dos caminhos-chave por meio dos quais Deus revela a Si mesmo. Estes nomes são mais do que apenas rótulos ou etiquetas de identificação; eles são descrições proposicionais de alguns aspectos das Suas infinitas Pessoas. Consequentemente, eles não podem ser usados ao acaso (à esmo), e não devem ser desconsiderados durante a leitura das Escrituras.

Existem, de uma maneira geral, três categorias para os nomes de Deus: (1) proposicional, expressando algum fato pertinente à sua divindade, tais como “Deus Altíssimo” (Gênesis 14:18-22) e “Deus eterno” (Gênesis 21:33); (2) histórico, comemorando algum encontro com Deus (como Jeová Jireh, “o Senhor proverá” - Gênesis 22:14; ver também Gênesis 16:13; Êxodo 17:15); (3) pessoal, declarando alguma experiência individual (“o Deus de Abraão”, “o Deus de Isaque”, etc.).

Aqui está uma breve explicação de alguns nomes proposicionais comuns no Antigo Testamento:

Jeová. Este é o nome pessoal de Deus, especialmente ligado ao Seu pacto de graça e misericórdia. Derivado do verbo “Eu sou” (explicado no episódio da sarça ardente, encontrado em Êxodo 3), este nome declara a autossuficiente independência, eternidade e soberania de Deus. Ainda, de maneira extraordinária, Jeová é o principal nome de Deus usado em contextos de salvação. Embora Deus seja infinitamente independente de qualquer coisa fora de Si mesmo, Ele está disposto a ter comunhão íntima com o homem, particularmente através do pacto da graça. Jeová, portanto, é frequentemente considerado como o “nome pactual” de Deus. Na versão King James (KJV), este nome é sempre traduzido em letras maiúsculas como “SENHOR”, ou ocasionalmente como “DEUS”. [As versões em português, traduzidas por João Ferreira de Almeida - JFA, particularmente a versão Almeida Revista e Atualizada - ARA, também seguem este mesmo padrão, segundo as explicações encontras no prefácio escrito pela Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, onde está escrito: “A palavra 'Senhor' sempre é escrita 'SENHOR', com letras maiúsculas, quando no texto original hebraico aparece o nome de Deus 'Javé' (Gênesis 2:4)”].

Deus. Este é o termo mais geral para a deidade. A palavra em hebraico pode estar tanto no singular (El), quanto no plural (Elohim). Ambas enfatizam a grandiosidade de Deus. Ele é “Todo-Poderoso”; Ele possui toda a autoridade; Ele é capaz realizar o que Lhe apraz. Este título também magnifica a transcendência de Deus; Ele é exaltado acima de toda a criação, incluindo o homem. A forma no plural significa a sua majestade ou excelência, que realça o Seu poder e grandiosidade, com ainda maior ênfase. De forma significativa, esta é a Sua primeira auto-revelação: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1, ver também Salmos 19:1). Ele é o Criador.

Senhor. O título Adonai descreve Deus como o Proprietário e Mestre supremo de tudo. Tudo pertence a Ele, e Ele governa tudo de acordo com os Seus próprios propósitos, para a Sua própria glória. Este nome declara a Sua absoluta soberania ou realeza. Reis terrenos vêm e vão, mas o Rei celestial reina, supremo, para sempre (Isaías 6:1). Todos os homens e todas as nações, quer tenham conhecimento Dele ou não, estão sujeitos à Sua autoridade e devem responder (se reportar) a Ele. Ele é o Soberano sobre toda a terra; todos irão se curvar diante Dele (2Reis 7:6; Salmos 110:5; Daniel 1:2; Amós 1:8). Na versão KJV, este título é traduzido como Senhor, para distinguir de Jeová, que é  escrito como SENHOR.

Deus Todo-Poderoso. Apesar deste título ocorrer mais frequentemente no período patriarcal, especialmente no livro de Jó, ele não é limitado somente a este período. Em hebraico, significa El Shaddai. As opiniões diferem no que diz respeito à tradução, contudo é mais provável que o significado seja “o Deus que é suficiente”. Ele é completamente capaz de manter (ou cumprir) cada uma das palavras das Suas promessas, mesmo quando o cumprimento parece impossível. Nada é muito difícil para El Shaddai. Assim, mesmo que a perspectiva de uma grande nação descendente de Abraão pareça impossível, por trás da promessa está El Shaddai, e, portanto, ela é certa (Gênesis 17:1; 35:11-12).

Senhor dos Exércitos. Significa “Jeová dos exércitos”, uma expressão militar que identifica Deus como o “Comandante” que tem toda a autoridade e patente infinita para ordenar as Suas tropas a completar a Sua vontade. Este título ocorre mais frequentemente durante o período da monarquia (Samuel, Reis, Crônicas, Salmos, e os Profetas). Dependendo do contexto, o exército pode estar se referindo à Israel, aos anjos, aos corpos celestiais (estrelas e planetas), ou até mesmo à toda a criação. O ponto importante é que Deus tem o poder, a autoridade e os recursos ao Seu comando, para fazer e alcançar todos os Seus planos e propósitos. Não importa quão grande seja a promessa, ou quão séria seja a ameaça, o “Senhor dos Exércitos” estará no comando e irá concretizar. Note, por exemplo, que Zacarias usa esta expressão cerca de cinquenta vezes na sua profecia, para reforçar a certeza de cada uma das palavras do Senhor (ver também Isaías 6:1-4).
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Segundo artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização.
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org

Série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada" (1/57)


A DOUTRINA DE DEUS — O DEUS ÚNICO E VERDADEIRO



Dentro das fronteiras do universo em que a humanidade habita, existem dois tipos de seres. Existem aqueles seres que são dependentes uns dos outros. Esta categoria abarca tudo, de elefantes a lesmas, de anjos a demônios, de seres humanos a vírus. Contudo, existe um ser do qual todos os outros dependem. Somente ele é auto-existente – o grande Yahweh (“Jehovah” ou Jeová), que disse a Moisés que o Seu nome é “EU SOU O QUE SOU” (Êxodo 3:14; ver também Apocalipse 1:4). Todos os outros seres extraem o seu sustento e existência a partir Dele. Ele é absolutamente único, de tal forma que Ele não depende (não precisa) de nada fora de Si mesmo. Apenas Ele possui o que os estudantes de teologia chamam de asseidade, o atributo da auto-existência (João 1:4; 5:26). Como Ele concede a vida para toda a criação, desde o maior objeto até a menor das partículas, Ele deve ser confessado como o único Criador e Deus (1Coríntios 8:6).​​

A confissão da Bíblia sobre a singularidade de Deus também pode ser encontrada na declaração de que Ele é santo (Isaías 6:3; Apocalipse 4:8). A santidade de Deus significa primeiramente que Ele é completamente diferente da Sua criação. Ele é o Criador, único e em controle completo de tudo o que Ele fez. Nós, seres humanos, somos limitados no que podemos fazer. Nosso conhecimento é finito, e nunca exaustivo. Nossas vidas nesta terra são relativamente curtas em duração e, frequentemente, perseguidas por experiências dolorosas — “desagradável, brutal e curta”, como o filósofo Thomas Hobbes uma vez descreveu. Deus não é assim. Ele é imortal, pode fazer tudo o que a Sua boa vontade decide, e não tem absolutamente nenhuma limitação. Dizer que Deus é santo significa falar da Sua singularidade, da Sua diversidade (ou alteridade) diante da Sua criação.

Homens e mulheres adoram a vários deuses. Tendo sido feitos à imagem do Deus verdadeiro, os seres humanos têm um insaciável desejo de adoração (ou prestar culto). Contudo, sendo seres caídos (pelo pecado), os seres humanos inevitavelmente adoram deuses fabricados por eles mesmos. João Calvino, o Reformador Francês, apontou precisamente que a mente humana é “uma perpétua fábrica de ídolos”. (Institutas da Religião Cristã, 1.11.8; cf. Romanos 1:18-25). O único remédio é a dádiva da visão espiritual, por parte de Deus, onde é concedido como que um raio de luz do céu, e as pessoas são despertadas para conhecerem ao Deus verdadeiro, e para conhecerem a si mesmas como Suas criaturas.

Deus é, portanto, soberano sobre a Sua criação. Ele concede vida e tira a vida, levanta nações e montanhas, e também as rebaixa, traz sóis para a luz, e os estingue. Nada pode detê-Lo. O que Ele decide, certamente acontece, e neste exercício de soberania está a Sua glória.

Os seres humanos têm o privilégio e a responsabilidade de reconhecer esta soberania de Deus. Contudo, eles só podem fazer isto quando Deus inclina os seus corações. Por natureza, eles são rebeldes, desprezando a Sua autoridade, e agindo contra o que eles instintivamente sabem, e também declarando que Deus não existe.

Contudo, Ele existe sim! O cristão tem mais certeza disto do que qualquer outra coisa que ele ou ela saiba. Assim, o “doce deleite” (emprestando uma frase de Jonathan Edwards, o pregador evangélico do século XVIII) do cristão é submeter-se a este grande Deus, reconhecendo a sua total dependência Dele, e vivendo para Ele e para a Sua glória. Portanto, o discurso cristão sobre Deus é muito mais do que uma discussão filosófica sobre a Sua existência. É o próprio deleite, para o cristão, vir a conhecer o único e verdadeiro Deus, e conhecendo-O, encontrar significado para a vida e, certamente, a vida eterna (1João 5:20) – na qual o cristão vai desfrutar eternamente o conhecimento, o amor e a comunhão com o Deus triuno, tendo gozo no Seu sorriso e banqueteando na Sua presença.
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Primeiro artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização.
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Carnaval: A festa que termina em Cinzas

O carnaval brasileiro é a maior festa popular do mundo. Atrai turistas de todos os continentes e chama a atenção da imprensa internacional. Escolas de samba, com seus enredos e carros alegóricos passam garbosamente pelas passarelas, vendendo alegria e trombeteando uma felicidade contagiante. São quatro dias de intenso fervor carnal. Multidões se acotovelam atrás de um carro alegórico, dançando e pulando freneticamente, movidas pelo álcool ou embaladas nas asas da sedução. Uns engrossam essas fileiras quase nus; outros escondem-se atrás de máscaras. As máscaras revelam os enrustidos e desvelam os anelos dos corações mais afoitos no pecado.
O carnaval é uma festa cara, onde não faltam as disputas acirradas entre as escolas e os arranjos subterrâneos para atender interesses inconfessos. Nessa festa, os excessos são a regra e a sobriedade, a exceção. Há muita bebedeira e muito consumo de drogas ilícitas. Há muita promiscuidade e muitos casamentos desfeitos. Há muitos que saem dessa alucinação com a consciência carregada de culpa e o corpo marcado por doenças que lhe encurtarão os dias.
O carnaval termina na quarta de cinzas. As cinzas são um sinal de arrependimento. Mas, nesse caso, as cinzas não sinalizam qualquer penitência ou quebrantamento. É apenas um ritual vazio, sem qualquer conteúdo moral e espiritual. Aliás, as cinzas são apropriadas para o desfecho do carnaval, pois essa festa mundana termina, quase sempre, timbrada pela dor e marcada pela culpa. As alegrias do carnaval são postiças e não verdadeiras. A alegria patrocinada pelo carnaval dura apenas enquanto as pessoas estão dopadas pelo prazer carnal. Quando as luzes dessa festa se apagam, deixa seu celebrante na mais densa escuridão. Quando as músicas cessam, fica apenas o gemido da angústia. Quando os enfeixes viram lixo, de lixo se cobre a alma, porque a alegria do mundo é um arremedo de alegria.
Assim é o pecado! O pecado é um embuste, uma farsa, um ledo engano. Parece belo aos olhos e desejável ao coração. Porém, sua aparência é falsa e seu sabor amargo. O pecado é maligníssimo. É pior do que o sofrimento e mais horrendo do que a própria morte. Os males todos desta vida não poderiam nos afastar de Deus, mas o pecado faz separação entre o homem e Deus. O pecado é pior do que o inferno, porque o inferno só existe por causa dele. O pecado é filho da cobiça e genetriz da morte. O pecado é enganador. Promete mundos e fundos, mas não tem nada para oferecer, a não ser a culpa, a dor, a vergonha e a morte. O pecado promete alegria e promove tristeza. O pecado promete liberdade e escraviza. O pecado promete vida e mata.
A verdadeira alegria não está no carnaval. A verdadeira alegria só Deus pode dar. A alegria de Deus é mais do que uma emoção. É mais do que um sentimento. A alegria de Deus é uma pessoa. É Jesus! Todo aquele que conhece a Jesus e tem nele o seu Salvador e Senhor, recebe essa alegria indizível e cheia de alegria. Essa alegria não dura apenas nos luzidios dias de festa. Está presente em todos os lugares, em todos os tempos, em todas as circunstâncias. Mesmo aqueles que sofrem os mais violentos ataques de fúria deste mundo, desfrutam dessa alegria. Mesmo aqueles que estão encerrados atrás de barras de ferro e presos por grossas correntes, cantam nas prisões. Mesmo aqueles que enfrentam os dramas da fome e dos mais perversos castigos físicos, encontram em Jesus, motivo para cantar. Mesmo aqueles que entram pelo corredor da morte e sofrem doloroso martírio, caminham para o patíbulo com um hino de louvor em seus lábios. Oh! Essa alegria o mundo não conhece nem poder dar. Essa alegria o mundo não pode tirar. Essa alegria não brota da terra, emana do céu. Essa alegria não vem dos homens, procede de Deus. Essa alegria não é uma oferta dos prazeres desta vida, mas um dom do Espírito Santo. Essa alegria não é celebrada nas passarelas do carnaval, mas no coração de todos os remidos do Senhor!


Autor: Hernandes Dias Lopes