terça-feira, 5 de julho de 2016

As 5 Solas

Uma das principais características do movimento reformador, ou protestante, foi a condenação feita por Martinho Lutero da “justificação pelas obras”. É importante notar que as “vendas de indulgências”surgiram exatamente deste princípio de que“boas-obras podem salvar alguém”. Deste movimento surgiu então as 5 Solas que são: Sola Scriptura (Somente a Bíblia); Sola Gratia (Somente a Graça); Solus Christus (Somente Cristo); Sola Fide (Somente a Fé); Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória).
Sola Scriptura (Somente a Escritura) –
Centralidade na Bíblia 2ª Timóteo 3:16-17 Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; | Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. É o principio no qual a Bíblia tem primazia em relação à Tradição legada pelo magistério da Igreja, quando, os princípios doutrinários entre esta e aquela forem conflitantes. Como Martinho Lutero afirmou quando a ele foi pedido para que voltasse atrás em seus ensinamentos:
“Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo mais claro
raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das passagens que citei; a menos que assim
submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois
é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me. Amém.” O historiador William Sweet sugeriu que isso posteriormente originou o direito fundamental de liberdade religiosa, bem como a própria ideia de democracia.[4]
Sola Gratia (Somente a Graça ou Salvação Somente pela Graça) – Centralidade na Graça Efésios 2:8-9 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. | Não vem das obras, para que ninguém se glorie; Afirma que a salvação é pela graça de Deus apenas, e que nós somos resgatados de Sua ira apenas por Sua graça. A graça de Deus em Cristo é a única causa eficiente da salvação. Esta graça é a obra sobrenatural do Espírito Santo que nos traz a Cristo por nos soltar da servidão do pecado e nos levantar da morte espiritual para a vida espiritual.
Sola fide (Somente a Fé ou Salvação Somente pela Fé) – Centralidade na Fé Efésios 2:8-9 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. | Não vem das obras, para que ninguém se glorie; A justificação é pela graça somente, através da fé somente, por causa somente de Cristo. É pela fé em Cristo que Sua justiça é imputada a nós como a única satisfação possível da perfeita justiça de Deus.
Solus Christus (Somente Cristo) – Centralidade em Cristo

João 14:6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Afirma que a salvação é encontrada somente em Cristo e que unicamente Sua vida sem pecado e expiação substitutiva são suficientes para nossa justificação e reconciliação com Deus o Pai. O evangelho não foi pregado se a obra substitutiva de Cristo não é declarada, e a fé em Cristo e Sua obra não é proposta.
Soli Deo gloria (Glória somente a Deus) – Centralidade em Deus Apocalipse 7:9-12 Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; | E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. | E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus, | Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém. Afirma que a salvação é dom de Deus, e foi alcançada a nós por Deus apenas para Sua glória. Não deve-se dividir a glória de Deus com nenhum homem, com nenhuma instituição e com nenhuma outra entidade. Deus não divide sua glória e para servirmos a Deus, devemos nos humilhar diante d’Ele e reconhecer que foi Ele e não nós quem fez a obra. A partir deste ponto os Luteranos e os batistas primitivos, em suas doutrinas, não são totalmente compatíveis com ambos os grupos (Calvinistas e Arminianos), desta forma, estes grupos preferem em vez de se envolver nos debates, seguirem as suas próprias formulações doutrinárias sobre a relação da liberdade humana com a soberania divina.
João Calvino Jehan Cauvin, nascido em 10 de Julho de 1509 e morto em 27 de Maio de 1564 ficou conhecido nos países de língua portuguesa como João Calvino. Considerado um dos pais da Reforma Protestante, este teólogo francês desenvolveu um sistema teológico cristão que, posteriormente, ficou conhecido como Calvinismo. Ainda com 12 anos de idade, Calvino foi admitido no Collège Montaigu, uma escola de dura reputação, conhecida pela sua rigidez, pelas constantes palmatórias e outras técnicas de educação punitivas. A lista de professores em Montaigu, nesta época, incluía o espanhol Antonio Coronel e o escocês John Mair (que foi professor de Inácio de Loyola). Perto de completar 20 anos de idade, foi enviado a Paris, com uma renda anual concedida pela Igreja Católica, com o fim de estudar Teologia, no entanto, por decisão de seu pai, ele foi enviado para Orleans para estudar Direito, apesar de Calvino preferir Teologia. O biógrafo francês de Calvino, Bernard Cottret, escreve:

“Direito e leis: Calvino, o teólogo, é no fim, também, Calvino, o jurista. O seu pensamento fica
marcado pela austeridade, a adstringência e a geometria da lei, pelo seu fascínio ou aspiração a ela.
No início do século XVI assiste-se no Direito a uma verdadeira revolução. A retórica de Cícero toma
a primazia sobre a filosofia medieval, que se sustenta nos seus silogismos. Com a interpretação de
textos jurídicos, Calvino toma contacto pela primeira vez com a Filologia humanista”. O humanismo
e o renascimento são, pois, os movimentos culturais que o vão influenciar em primeiro lugar”.[5] Entretanto nesta época o papa Clemente VII pressionava o rei de França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de 30 de Agosto de 1533 e de 10 de Novembro do mesmo ano, o papa exortava que a qualquer custo financeiro ou de vidas fosse realizada a “aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência neste reino“. Após alguma tensão por seu rompimento com o Catolicismo, Calvino acabou se mudando para Basel na Suíça onde ele publicou sua principal obra: “As Institutas da Religião Cristã” em 1536. Calvino era um incansável polemista e apologista que gerou muita controvérsia. Ele não aceitava, em hipótese alguma, as teologias reinantes de Tomás de Aquino que se afastavam dos princípios da Graça propostos por Paulo em suas cartas e defendidas por Agostinho no início da Igreja.
A influência de Agostinho sobre Calvino é notória, princípios como a predestinação e dependência total de Deus para servos salvos do inferno são princípios Agostinianos compartilhados por Calvino.
Jacó Armínio Jakob Hermanszoon, nascido em 10 de Outubro de 1560 e que morreu em 19 de Outubro de 1609 foi um teólogo holandes da reforma protestante. Hermanszoon ficou conhecido pela tradução latina de seu nome: Armínio e foi professor de teologia na Universidade de Leiden. Órfão ainda na infância, foi adotado pelo pastor Theodorus Aemilius que o pôs na escola de Utrecht. Contudo, esse pastor também veio a falecer em 1574. Subsequentemente Rudolph Snellius levou-o à Marburgo o que possibilitou Armínio poder chegar a Universidade de Leiden como estudante de
Teologia e posteriormente se tornar professor da renomada instituição. Jacó estudou com dedicação e teve ali sementes plantadas que começariam a se desenvolver em uma teologia que posteriormente competiria com a dominante teologia reformada de João Calvino. Ele foi ordenado Pastor em Amsterdam em 1588 e ganhou reputação com uma série de sermões sobre a Epístola de Romanos que desenvolveu gradualmente suas opiniões sobre a graça, predestinação e livrearbítrio, que se mostraram incompatíveis com as doutrinas de Calvino. Armínio começou a formular sua base teológica ao defrontar os ensinamentos Calvinistas com os de Dirck Volcketszoon Coomhert.[6] Neste momento Armínio começou a duvidar de alguns aspéctos do calvinismo e a modificar algumas partes a partir de sua própria visão.[7] Ele tentou reformar o calvinismo, e emprestou seu nome a um movimento — Arminianismo — que resistiria a alguns dos princípios calvinistas (predestinação incondicional, expiação limitada). Os primeiros seguidores holandeses de seu ensinamento ficaram conhecidos como Remonstrantes depois de terem emitido um documento, intitulado Remonstrantiæ (1610), contendo cinco pontos de desacordo com a corrente principal do calvinismo. A teologia arminiana não se tornou totalmente desenvolvida durante a vida de Armínio, só após a sua morte (1609) os cinco artigos da remonstrância (1610) sistematizaram e formalizaram as suas ideias.

A influência de Tomás de Aquino sobre Armínio é notória, princípios como as boas obras e livrearbítrio são princípios do Tomismo (teologia de Tomás de Aquino) compartilhados por Armínio.
Referências:
[1] Portalié, Eugène (1913). “Teaching of St. Augustine of Hippo”. Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company.
[2] Anderson, David R., Ph.D.. Free Grace Soteriology. [S.l.]: Zulon Press, 2010. 92 p..
[3] In: Charles W. Eliot. Confessions of St. Augustine. [S.l.]: Collier & son. p. 4..
[4] Online Etymology Dictionary. Página visitada em 02-08-2012.
[5] Cottret, Bernard. Calvin: A Biography. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans, 2000. 0-8028- 3159-1 Traduzido para o inglês do original Calvin: Biographie, Edição de Jean-Claude Lattès, 1995.
[6] Dirck Volckertszoon Coornhert (1522-1590) (* Amsterdam, 1522 – † Gouda, 29 de Outubro de 1590), foi filósofo, tradutor, político e teólogo holandês.
[7] Gonzalez, Justo L.. A History of Christian Thought. Nashville: Abingdon Press, 1983. p. 3:255. ISBN 0687171784

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