Estamos começando hoje uma série de quatro artigos que
visam dar uma melhor compreensão sobre as duas principais linhas teológicas dentre os evangélicos. Não pretendemos
que este estudo venha a ser completo ou definitivo. Um
embate que já persiste por 400 anos não poderia ser
totalmente resolvido numa única série de artigos para a
internet. Nosso objetivo é que tomemos conhecimento do que
são as duas principais correntes teológicas e consigamos
compreender que, mesmo aquele que afirma não querer estudar teologia, sempre estará ligado a alguma corrente teológica.
Desta forma, este trabalho está dividido em:
Parte 1 – Histórico Geral – Visão Geral
Parte 2 – Calvinismo
Parte 3 – Arminianismo
Parte 4 – Comparando – Conclusão
As Perguntas comuns no cristianismo:
“Fui eu que escolhi a Deus ou foi Ele que me escolheu?”
“Posso resistir a vontade Deus?”
“Se eu já fui salvo, posso perder a salvação?”
Histórico Geral
Por mais inacreditável que possa parecer para os brasileiros, atualmente temos visto importantes sinais
de que os jovens evangélicos estão cada vez mais interessados no estudo da Palavra de Deus. Ao menos
através da INTERNET vemos um crescente número de blogs e vídeos apologistas, vemos inúmeros
bem intencionados cristãos que publicam textos, fotos e artigos, quer seja nos seus blogs quer seja no
Facebook. A verdade é que ao invés de preferirem a literatura mundana de seus pais, muitos jovens
estão lendo hoje livros tais como “A Escravidão da Vontade“, de Martinho Lutero, e as “Institutas“,
de João Calvino. Na medida em que lêem e comparam a Teologia dos Reformadores Protestantes com
suas Bíblias, começam a perceber que muito da teologia do evangelismo contemporâneo tem
negligenciado a graça, e tem dado ênfase às obras da carne.
Pode parecer estranho, mas na verdade muitos cristãos que afirmam crer na salvação pela GRAÇA
continuam insistindo que o ser humano tem o poder de “tomar a decisão por Cristo”. Existem até igrejas
que ressaltam a Graça em seus nomes e lemas, mas que na prática negam-na por seguirem correntes
teológicas contrárias. Outros tantos afirmam que “Deus ama a todos igualmente” e se mantém certos
de que Ele está mandando alguns para o inferno. Talvez isto já fosse motivo suficiente para que
fizéssemos este estudo, mas muito mais temos a falar. Você talvez desconheça, mas, se és evangélico,sua Igreja, provavelmente, deve seguir a T.U.L.I.P. ou a Remonstrância. Talvez você possa
desconhecer as Cinco Solas, mas isto é questão básica para que uma Igreja seja considerada
Evangélica.
Nos Estados Unidos, por exemplo, está havendo uma marcante volta aos princípios Calvinistas e um
abandono gradual do Arminianismo, por outro lado aqui no Brasil ainda há maior preponderância dos
que seguem os princípios Arminianos em comparação com os Calvinistas. (veja nosso artigo:
Movimento quer trazer jovens às raízes)
Para facilitar uma primeira análise, o Calvinismo é seguido pelos Presbiterianos e muitos Batistas e
o Arminianismo é seguido pelos Metodistas e muitos Batistas. Desta forma, sinto-me a vontade para
falar sobre o tema já que, como Batista, temos as duas linhas presentes em nossas Igrejas (além da
batista primitiva que citaremos abaixo). Fiz questão de não citar outras denominações como as
Assembléias de Deus, Quadrangular, IURD, IMPD, IIGD… pois todas estas são frutos das três que
citei inicialmente, mas todas estão nesta ou naquela linha e o leitor poderá comparar sua própria igreja
com os pontos aqui apresentados.
Engana-se quem afirma que o Calvinismo é uma teologia de pessoas mais estudadas e o Arminianismo
é uma teologia de pessoas mais simples. Se a questão fosse esta não teríamos tantos embates há tanto
tempo. Devemos afirmar que existem Calvinistas com muito e pouco estudo e Arminianos com muito
e pouco estudo. Não desenvolva uma conclusão de forma tão simplista. Desta forma, quando vemos
algum arminiano ou calvinista, devemos compreender que isto surgiu a partir dos estudos a que foi
apresentado e que, ao final levou-os a tomarem estas posições (mesmo desconhecendo-as).
Lembre-se que tanto Calvino quanto Armínio foram homens que se dedicaram exaustivamente aos
estudos da Palavra de Deus, ambos buscaram incessantemente encontrar qual seria a mais correta
sistemática teológica a qual pudéssemos seguir. Calvino estudou na França, até a Universidade,
Armínio estudo na Holanda, até a Universidade. Portanto, não há distinção com relação a estudos
realizados.
Raízes Históricas:
Mesmo sabendo que este debate é interno das Igrejas Evangélicas, devemos ter conhecimento que
as raízes são muito anteriores a Reforma Protestante de 1517.
Tudo começou com Pelágio que foi um monge britânico que viajou a Roma por volta de 400 d.C. e
ficou estarrecido com o comportamento mundano dentro das igrejas cristãs. Para combater esta falta
de santidade, ele pregou um Evangelho que inicia com a justificação somente pela fé (na verdade foi
Pelágio, e não Lutero, que foi o primeiro a acrescentar a palavra somente na frase de Paulo),[1] mas
terminava através do esforço humano e da moralidade. Pelágio tinha lido as Confissões de Agostinho
e acreditava que ela representava uma visão fatalista e pessimista da natureza humana. Os seguidores
de Pelágio, incluindo Celéstio, foram mais longe do que o seu professor e removeram a justificação
por meio da fé, estabelecendo a salvação moral e baseada em obras conhecida como pelagianismo.
Deve-se mencionar que a única evidência histórica dos ensinamentos de Pelágio ou de seus seguidores
é encontrada nos escritos dos seus dois adversários mais fortes – Agostinho e Jerônimo.
Em resposta a Pelágio, Agostinho adotou um sistema teológico que incluía não apenas o pecado
original (que Pelágio negou), mas também uma forma de predestinação.[1] Alguns autores sustentam
que Agostinho ensinou as doutrinas da expiação limitada[2] e da graça irresistível,[3] mais tarde
associados com o calvinismo clássico. Os críticos afirmam que parte da filosofia de Agostinho poderia
ter se originado a partir de sua perícia na filosofia grega, especialmente platonismo e maniqueísmo,
que mantém uma visão muito elevada de espírito do homem e uma visão muito baixo do corpo do
homem.[2] Contra a noção pelagiana que o homem pode fazer tudo certo, Agostinho ensinou a noção
de que o homem não pode fazer nada direito. Assim, ele raciocinou, o homem não pode sequer aceitar
a oferta da salvação – deve ser Deus que age em Si mesmo e nos indivíduos para trazer salvação.
Graças a uma enxurrada de escritos de Agostinho (Graça e Livre Arbítrio, Correção e Graça, A Predestinação dos Santos e O Dom da Perseverança) o Catolicismo acabou por não entrar mais nos
embates se definindo pela sistematologia teológica de Agostinho. Desta forma, a Igreja Católica, e
ainda mais a Igreja Ortodoxa, mantiveram-se fora do debate condenando de forma definitiva os ensinos
de Pelágio.
Anos mais tarde a, agora, Igreja Católica Apostólica Romana já possuía duas correntes do pensamento
sobre a teologia da salvação, que são o tomismo (teologia desenvolvida por São Tomás de Aquino) e
o molinismo (teologia desenvolvida pelo teólogo jesuíta Luis Molina – também utilizada hoje por
alguns protestantes, tais como William Lane Craig e Alvin Plantinga). Estas duas correntes ainda são
as atuais dentro do Catolicismo com uma clara maioria dos adeptos do Tomismo.
Nas décadas anteriores a Reforma Protestante, a Igreja Católica já havia adotado, em sua grande
maioria, os princípios do Tomismo (teologia de Tomás de Aquino) que creem na fé formada pela caridade (fides caritate formata). Ou seja, com o livre-arbítrio do homem restaurado após o batismo,
o homem deve agora dar o seu melhor para fazer boas obras, a fim de ter uma fé formada pela caridade;
e, então galgar o Mérito de condigno (meritum de condigno) onde Deus, então, banca e concede da
vida eterna com base nestas boas obras que Aquino chama de mérito do homem digno.
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